16/02/2024 - 11:51
O principal opositor russo, Alexei Navalny, morreu nesta sexta-feira (16) aos 47 anos em uma prisão do Ártico onde cumpria uma pena de 19 anos, um mês antes das eleições que devem consolidar no poder o presidente Vladimir Putin.
A morte de Navalny – depois de passar três anos na prisão e de sobreviver a um envenenamento que atribuiu ao Kremlin – deixa a oposição sem o seu principal nome antes da eleição presidencial, um pleito no qual os políticos críticos do governo estão vetados.
A oposição na Rússia está reduzida ao mínimo: o Kremlin trava uma dura batalha de repressão contra qualquer voz crítica, uma política que se intensificou após o inicio da ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
As autoridades russas revelaram poucos detalhes das circunstâncias da morte de Navalny, limitando-se a um comunicado que menciona esforços para reanimar o opositor.
“Em 16 de fevereiro de 2024, no centro penitenciário N°3, o prisioneiro Navalny A.A. passou mal após uma caminhada e quase imediatamente perdeu a consciência”, afirmou o serviço penitenciário da região ártica de Yamal em um comunicado.
“Todas as medidas de reanimação necessárias foram realizadas, mas não apresentaram resultados positivos”, acrescenta a nota.
O ativista estava detido desde sua condenação por “extremismo” e cumpria pena de 19 anos de prisão em uma colônia penal remota do Ártico, em condições muito difíceis.
Os vários processos contra ele foram denunciados como perseguição política e uma estratégia de punição por sua oposição ao presidente Vladimir Putin.
O presidente russo – que nunca pronunciou o nome de Navalny – foi informado sobre o falecimento, indicou seu porta-voz, Dmitri Peskov.
Navalny foi um advogado que começou a ganhar fama na Rússia na década de 2010 por vídeos publicados na internet em que denunciava a corrupção, acusações que foram ignoradas pela imprensa oficial.
Depois, como ativista, ele ajudou a organizar grandes manifestações da oposição em 2011 e 2012, que foram duramente reprimidas.
Navalny foi muito próximo do nacionalismo e se consolidou como o principal opositor de Putin, que criticava com veemência ao afirmar que seu partido era integrado por “ladrões e vigaristas”.
As principais potências ocidentais, começando pelos Estados Unidos e incluindo Alemanha, França e Reino Unido, lamentaram a morte Navalny. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a Rússia terá que responder a “perguntas sérias” sobre a morte.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Anthony Blinken, afirmou que a Rússia é “responsável” pela morte, uma opinião compartilhada pela União Europeia.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, declarou que Putin deve “prestar contas por seus crimes”. Durante o julgamento, Navalny descreveu a operação militar russa na Ucrânia como “a guerra mais estúpida e insensata do século XXI”.
Nas audiências de seus processos nos últimos meses, nas quais participou por vídeo, Alexei Navalny apareceu muito mais magro e frágil.
Leonid Solovyov, um dos advogados de Navalny, declarou ao jornal independente Novaya Gazeta, que é editado no exterior, que o opositor estava “normal” quando um de seus representantes o visitou na quarta-feira.
“Por decisão da família de Alexei Navalny, não vou fazer nenhum comentário. Agora estamos organizando tudo”, disse.
O diretor de redação do Novaya Gazeta, o jornalista russo Dmitri Muratov, prêmio Nobel da Paz em 2021, chamou a morte de “assassinato”.
O opositor enfrentou vários problemas de saúde relacionados a uma greve de fome e ao envenenamento que sofreu em agosto 2020 na Sibéria, em plena campanha para as eleições regionais.
Ele precisou ser levado para a Alemanha, quando estava à beira da morte, para receber tratamento, uma decisão autorizada pelo Kremlin.
Embora soubesse que a detenção o aguardava, Navalny decidiu regressar à Rússia e foi preso em janeiro de 2021 no aeroporto.
A prisão não abalou sua determinação. Nas últimas audiências e nas últimas mensagens publicadas em suas redes sociais por meio dos advogados, Navalny não deixou de criticar Putin, que descreveu como um “avô escondido em um bunker”, já que o presidente russo pouco aparece em público.
Nas mensagens divulgadas nas redes sociais, ele ironizava as humilhações que sofria nas mãos dos agentes penitenciários.
No dia 1º de fevereiro, sua equipe publicou uma mensagem na qual convocava uma manifestação na Rússia para as eleições presidenciais de 15 a 17 de março.
A vitória do presidente russo parece um fato consumado, já que os rivais, dos quais Navalny era o de maior destaque, estão presos ou no exílio.
Em uma de suas últimas mensagens, Navalny defendeu o voto em “qualquer candidato” diferente de Putin e chamou as eleições de “farsa”.
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