A tromba d’água suspeita de ter causado o naufrágio do veleiro do magnata britânico Mike Lynch na costa da Sicília é um fenômeno “violento e localizado”, provavelmente potencializado pelas temperaturas extremamente altas do Mediterrâneo, explica à AFP um especialista francês do setor marítimo.

A investigação está apenas começando e os mergulhadores ainda não encontraram todos os desaparecidos.

Jean-Marie Dumon, ex-oficial da Marinha francesa com 35 anos de experiência e subdelegado-geral do Grupo Francês de Indústrias de Construção e Atividades Navais (Gican), explica várias hipóteses e como os fatores meteorológicos poderiam ter criado uma situação “absolutamente caótica” para a embarcação.

PERGUNTA: Como uma tromba d’água pode afundar um veleiro?

RESPOSTA: Pode parecer surpreendente, mas é um fenômeno que pode se assemelhar a um tornado violento, que consiste em um movimento de sucção entre um céu carregado de nuvens e a superfície terrestre. É um fenômeno bastante comum nos Estados Unidos.

Neste caso, trata-se de um desses fenômenos um pouco mais raros, mas que ocorrem no mar e provocam um pequeno tornado, muito violento e localizado. Em geral, ele se dissipa quando toca a terra.

Claro, seria necessário analisar os radares meteorológicos e o que ocorreu no local, frente às costas da Sicília. Mas esses fenômenos também podem ser acentuados quando são desencadeados por uma diferença de temperaturas entre uma cobertura de nuvens relativamente fria e uma superfície de água muito mais quente do que o habitual.

Este ano, no Mediterrâneo, em alguns locais, a temperatura da superfície da água foi superior à média, chegando a quase 30 graus.

Estamos falando de um fenômeno supertempestuoso. Pode haver uma sobreposição do fenômeno de sucção de ar e água e, ao mesmo tempo, ventos violentos, de cerca de 100 km/h, o que pode gerar condições marítimas completamente caóticas que efetivamente podem causar naufrágios.

P: Como é possível que um veleiro tão grande, que navegou em oceanos agitados, tenha afundado no mar?

R: De fato, é um veleiro de grande qualidade que provavelmente foi projetado por um estúdio de arquitetura naval, modelado para situações extremas e clássicas com ventos constantes e mares agitados.

E, ao mesmo tempo, temos um efeito de cisalhamento dos ventos que poderia ter provocado instabilidade.

O veleiro tem um mastro bastante alto, creio que de 75 metros de altura, o que poderia ter causado um efeito amplificador devido à relação entre esse mastro e o comprimento do barco, provocando um tombamento em um determinado momento.

Uma vez que se inclina de lado, a água pode começar a entrar rapidamente no veleiro.

P: Como se explica que os outros barcos presentes na área não tenham sido afetados?

Os outros barcos provavelmente tinham uma relação de estabilidade em relação ao mastro diferente, é uma hipótese. Seria necessário contrastá-la com dados técnicos estabelecidos sobre os outros veleiros que estavam ancorados ou navegando nas proximidades, para saber o que observaram quanto ao estado do mar e à evolução dos ventos no momento do desastre.

O fato de o barco em si não ter ficado danificado, sem rachaduras ou danos aparentes, sugere que ele se inclinou de lado, o que significa que perdeu a estabilidade em algum momento. Como estava ancorado, era menos manobrável. Estava estacionado, então a tripulação não podia manobrar com tanta rapidez como se estivesse navegando.

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