MULHER-ONÇA Aline Guillen no papel de Juma: realismo fantástico (Crédito:Globo/João Miguel Júnior)

Quando a novela Pantanal foi ao ar pela primeira vez na TV Manchete, em março de 1990, provocou uma revolução silenciosa na teledramaturgia brasileira. O projeto liderado pelo diretor Jayme Monjardim – e rejeitado pela TV Globo – era exatamente o contrário do que se fazia para conquistar o público. Enquanto os índices de audiência indicavam que oas pessoas desejavam ver tramas urbanas, diálogos rápidos e cenas editadas com agilidade, a produção da Manchete abusava dos planos abertos, com longas passagens e, muitas vezes, sem nenhum ator em cena. No universo televisivo foi um choque: como a novela de Benedito Ruy Barbosa, inspirada pelo velho realismo fantástico, conseguia vencer a guerra do Ibope?

A pergunta permanece sem resposta. Talvez o Brasil da época, recém-confiscado pelo presidente Fernando Collor, precisasse de um tempo para respirar e olhar para si mesmo, longe dos arranha-céus das grandes cidades. Pode ser que seja essa a aposta da Globo hoje: entre a pandemia e a tragédia do governo Jair Bolsonaro, mais de três décadas depois a emissora carioca se rende ao Pantanal e exibe um remake da novela que tanto a incomodou no passado.

Há, obviamente, adaptações inevitáveis no elenco e na produção: no lugar de Monjardim, a emissora escalou os diretores Rogério Gomes e Gustavo Fernandez. Cristiana Oliveira, que fez sucesso no papel de Juma, a sedutora “mulher-onça” sai de cena e entra a jovem atriz Alanis Guillen. A tecnologia também é bem diferente: a equipe agora usará drones, câmeras 8K de “ultra-alta-definição” e captação de som no formato Atmos, como nos cinemas. O ritmo lento, no entanto, será mantido – resta saber se ele será bem aceito em plena era do streaming.