É com sensibilidade que a atriz e diretora Natalie Portman adapta o relato autobiográfico De Amor e Trevas, do escritor israelense Amóz Oz. Este descreve com minúcias seu relacionamento com a mãe, Fania (no filme, vivido pela própria Natalie) durante os anos formadores do Estado de Israel.

Ambientado no pós-guerra, com a Palestina ainda sob domínio britânico, o longa mostra as dificuldades de estabelecimento do estado israelense e os conflitos nascentes entre judeus e palestinos. Mas a opção de Natalie é deixar a política como difuso pano de fundo, enquanto se concentra nas relações familiares. Em especial, na relação entre filho e mãe.

E é a figura da mãe a que mais se destaca em todo o relato. Fania era uma pessoa sensível e problemática. Sentia-se solitária, vivia um casamento frio e distante, e compensava o vazio existencial com conversas íntimas com o filho, Amos (Amir Tessler), a quem tratava como adulto. Pode-se imaginar a importância que essa convivência precoce com problemas da idade adulta teve sobre a criança que um dia seria escritor. E que portanto teria de lidar com as nuances problemáticas das relações humanas.

Natalie, nascida em Israel e radicada de pequena nos Estados Unidos, opta pela radical decisão de fazer um filme falado em hebraico. É uma ousadia em termos de cinema comercial quando o “natural”, aqui, seria a opção pelo inglês. Reconheça-se então o que se ganha em autenticidade com esta escolha.

Do ponto de vista da dramaturgia, as opções são mais conservadoras. Busca-se o naturalismo de sempre e, nesse contexto, Natalie, atriz oscarizada (por O Cisne Negro), sente-se bem à vontade. É o registro quase exclusivo do cinema norte-americano contemporâneo, no qual ela atua. Em termos visuais, o filme é bonito, um tanto calcado em tons escuros, guardando o viés retrô que talvez convenha à história.

A trama tem um tom dramático, que tende ao trágico, como se verá. No entanto, a diretora estreante em longas-metragens prefere tratar tudo de maneira discreta, sóbria, contida, sem expor demais os personagens às suas próprias emoções. Bem, tudo, na vida e na arte, é questão de dose. Nesse tipo de situação, o exagero talvez soasse um tanto vulgar. Por temer esse risco, Natalie se aproxima do extremo oposto, e esteriliza em demasia as emoções.

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A impressão que fica é a de um filme correto, porém algo frio. E, o que é um tanto limitante num diretor novato que deseja impor sua marca, sem a afirmação de estilo próprio. Talento não parece faltar a Natalie nesta outra faceta de sua carreira no cinema. Talvez lhe tenha faltado ousadia ao abordar tema tão próximo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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