Natalia Pasternak, microbiologista que participou da CPI da Covid, entende que o Ministério da Saúde errou gravemente ao suspender a vacinação de adolescentes contra covid-19. Ela teme que isso cause um grande prejuízo na luta do Brasil contra a pandemia.

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“Foi mais do que um equívoco, foi uma enorme irresponsabilidade. Uma declaração como esta pode ter consequências desastrosas para a confiança da população com as vacinas como um todo. Ele usou informações falsas e distorcidas, sobre a OMS, e sobre efeitos adversos. A OMS nunca deixou de recomendar vacinas para adolescentes por questão de segurança. Apenas fez um apelo para que se priorizasse a vacinação de adultos e idosos antes. Foi um apelo social e logístico, e não de segurança da vacina. O que vimos foi o ministro da Saúde usando os mesmos argumentos dos antivacinas”, criticou Natalia em entrevista ao jornal O Globo.

Natalia entende que os movimentos anti vacina ainda não são fortes no Brasil. Mas teme que essas postura do Ministério da Saúde, somada com outras questões políticas, aumente a força dos negacionistas. Ela criticou inclusive a postura do Instituto Butantan ao divulgar informações sobre a CoronaVac.

“Não se pode vender os imunizantes como se eles fossem perfeitos, exatamente como acontece com qualquer remédio, por exemplo. Isso pode gerar frustração na população. Temos que apresentá-las como a grande conquista científica que são, mas com honestidade e transparência. O Instituto Butantan, por exemplo, veiculou informação de forma tendenciosa. Sem fazer nenhum julgamento pessoal dos dirigentes, o Butantan, como instituição, se deixou politizar e tentou vender a CoronaVac como se fosse perfeita e agora paga um preço. As pessoas reagem: “mas o Butantan não falou que a CoronaVac tinha 100% de prevenção contra a morte, então por que o Tarcísio Meira morreu?”. A vacina do Butantan é uma ótima vacina, que já tinha sua confiança abalada pela população por uma ação política intencional do governo federal. Pois o Butantan acabou auxiliando a difamação feita pelo Planalto. As pessoas dizem: ´vocês falaram que a proteção era de 78%, mas depois caiu para 50% (índice de eficácia), no que vou confiar?` Precisamos explicar probabilidades, como é que as vacinas de fato funcionam, e prestar muita atenção neste aspecto para não plantar a semente de um movimento antivacina no país”, pediu Natalia.

Além de continuar com a vacinação, Natalia acredita que o Brasil deve fazer uma campanha para que a população não relaxe nos cuidados sanitários.

“Precisamos de boas campanhas, que nunca tivemos, inclusive para evitar o otimismo irresponsável, o liberou geral, como se viu aqui nos EUA. É importante ser otimista, mas com responsabilidade. Nosso maior fantasma é justamente a ilusão da volta da normalidade, a de que a pandemia já acabou. Detectamos que os números estão caindo, que a variante Delta “não pegou direito no Brasil”, e relaxamos. A ilusão pode gerar um rebote. É importante lembrar que a pandemia, como bem sabemos, depende do comportamento das pessoas”, concluiu Natalia.