Não é preciso ser criança para esperar pelo Papai Noel: a maior prova disso é a grande expectativa que envolve o comércio nessa época do ano. O período, no entanto, também vem sendo aguardado ansiosamente pelas famílias brasileiras. O Natal de 2020, com a pandemia no auge, foi contido e com pouca celebração. Graças ao avanço na vacinação, e a consequente melhoria dos indíces de contágio, o fim de ano em 2021 tem tudo para ser melhor. O Natal deve movimentar R$ 34,4 bilhões na economia, segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Isso representa um aumento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar do crescimento não ser expressivo, pesquisa realizada pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) aponta que 77% da população pretende ir às compras, nem que seja para comprar itens baratos, a popular “lembrancinha”.

ALÍVIO “Não temos negacionistas na família”, comemora a psicóloga Patrícia Aragão Morello (Crédito:Anna Carolina Negri)

A psicóloga Patrícia Aragão Morello, de 51 anos, admite que gosta de incorporar o espírito do Natal. “Costumo comprar alguma coisa para todo mundo”, diz. Ela já chegou a embalar centenas de presentes com a mesma estampa de papel para que ficassem harmônicos sob a árvore de Natal da família, um pinheiro de quase dois metros em que quase não há mais lugar para enfeites. No ano passado, antes das vacinas, a festa contou apenas com as pessoas com quem ela já estava se isolando. “Não dava para abraçar todo mundo. Tinha que manter um distanciamento, foi um Natal diferente”, afirma. Este ano, contudo, ela pretende voltar ao formato de sempre: “Somos uma família grande, muitos primos, tias, mães e sobrinhos. Com a vacina, estamos preparados para nos reunir novamente”.

O Natal será o mais tradicional possível, com ceia à meia-noite, amigo secreto e troca de presentes. Patrícia pretende até contratar um Papai Noel para entreter as crianças. Apesar do amor pelo Natal, ela afirma que não é hora de ostentação. “Não vou encher a casa de luzes porque a energia está muito cara. Vou iluminar apenas a árvore e instalar no jardim um Papai Noel inflável”, diz. Ela também fez questão de não comprar nenhuma decoração nova, e irá reutilizar a que foi usada em anos anteriores. A comida será feita pelos familiares, que vão se reunir na manhã do dia 24 para começar a cozinhar. “Costumamos fazer uma mesa de doces e outra de salgados, fora as comidinhas e bebidas que fazemos antes da ceia.” A festa terá cerca de 50 pessoas, “fora os agregados”, namorados e pessoas que costumam aparecer de última hora. Patrícia, porém, nem se preocupa com a presença de não-vacinados: “Não tem negacionista na família, ainda bem. Aliás, eu, pessoalmente, não conheço ninguém que não tenha tomado a vacina”.

Planejamento natalino

A questão da vacinação também não é problema para a designer de interiores Camila Bonassa, 44. O filho mais novo, Guilherme Bonassa Seyssel, de 14 anos, contava os dias na agenda para receber o imunizante: “Ele ficou super contente quando viu que haviam antecipado a data”.

Camila está entrando aos poucos no clima do Natal devido a mortes recentes na família. Ela perdeu a mãe em 2019 e a tia em 2020. Nenhuma delas, porém, foi vítima da Covid-19. “As duas eram parte fundamental do meu Natal desde que era criança. Em 2019 e 2020 o encontro foi triste, mas esse ano vamos tentar retomar a celebração”, diz. A família alugou um salão de festas e pretende reunir cerca de 40 pessoas, mas o número pode aumentar. “Cada um traz um prato, não costumamos comprar uma ceia. É uma comida afetiva.”

Camila e o filho montaram uma pequena árvore em casa, mas não pretendem exagerar nas luzes e decoração. O Papai Noel também não será contratado: algum parente vai vestir a fantasia. Estarão reunidas três gerações, desde uma tia com 80 anos, a mais velha, a uma criança de dois anos. A designer confessa que está com saudades da confraternização em família. “Somos bem carinhosos, beijamos e abraçamos muito. Mesmo durante a pandemia, não deixei de abraçar meus filhos”, diz, com a voz embargada. Ela explica que o filho mais velho se casou recentemente em uma cerimônia para 70 pessoas em um ambiente ao ar livre. “Ninguém que foi à festa contraiu Covid. Isso me dá segurança para realizar o Natal.”

PRECAUÇÃO Papai Noel do Shopping Higienópolis: pedidos atrás de uma barreira de acrílico (Crédito:GABRIEL REIS)

Uma das coisas que não deve retomar à normalidade tão cedo é a relação das crianças com a figura do Papai Noel — principalmente em espaços como shoppings e grandes redes de supermercados. Para João, Papai Noel profissional que prefere não revelar o sobrenome para não estragar a magia de seu personagem, seguir todas as regras sanitárias será essencial. Aos 70 anos, ele acredita que o Natal é uma festa de comunhão, mas compreende que ainda não será possível brincar com as crianças: “A magia do Natal nunca deixou de existir. Mesmo com o distanciamento, as crianças não pararam de sonhar”.

João trabalha como o bom velhinho há 22 anos, 16 deles no Shopping Higienópolis, bairro sofisticado na região central de São Paulo. Ele se acostumou a usar máscara o tempo inteiro e trabalha sentado atrás de uma barreira de acrílico por motivo de segurança. No início, as crianças até estranham não abraçar o velhinho ou tirar a tradicional foto ao seu lado, mas logo a conversa passa a fluir — e os pedidos também. Com novas variantes e a quarta onda de contágio em países do hemisfério norte, o contato com estranhos não deve voltar tão cedo. A reunião com as pessoas que você ama, no entanto, ainda é o melhor presente.