Os movimentos de integração entre as montadoras globais não são novidade, mas o anúncio das negociações para a fusão da Fiat Chrysler (FCA) e da Renault foi uma surpresa. Se concretizada, fará da empresa a terceira maior fabricante global de veículos, com vendas anuais de 8,7 milhões de unidades – atrás apenas de Volkswagen e Toyota, mas à frente da GM.

A indústria automobilística é afetada globalmente pela queda nas vendas, pelo avanço chinês e pela mudança tecnológica dos carros elétricos e autônomos. O novo grupo global poderia liderar nesse segmento. Esse é um ponto forte da Renault, que é líder na Europa nesse setor. A FCA, por outro lado, agrega a força de marcas premium e de utilitários esportivos, que são um importante drive de crescimento nos EUA. Além disso, é líder na América Latina, uma fronteira importante de expansão.

O Brasil é um dos pilares do novo grupo. O país já é a maior operação da FCA no mundo, depois da Itália. Acrescentando a Renault, a companhia passará a liderar o mercado brasileiro, à frente de GM e Volkswagen. “A fábrica de Goiana (PE), da FCA, é uma das mais modernas e competitivas das duas montadoras “, diz Antonio Jorge Martins, da FGV. A FCA tinha anunciado recentemente R$ 7,5 bilhões de investimentos para expandir essa planta e mais R$ 8,5 bilhões para Betim (MG), que receberá uma nova fábrica de motores, com a criação de 1.200 empregos. Já a Renault tem um complexo em São José dos Pinhais (PR).

A fusão visa ganhos de sinergia de 5 bilhões de euros e não deve fechar nenhuma fábrica no mundo, segundo comunicado oficial. O governo francês, que detém uma fatia importante da Renault, se mostrou favorável, mas indicou preocupação com a perda de postos de trabalho. O governo italiano também fez essa ressalva. No Brasil, em recuperação após quedas expressivas nas vendas entre 2012 e 2016, é cedo para prever impactos sobre o mercado de trabalho. Mas o fato de o parque das montadoras no país ser relativamente recente, fruto do último ciclo de investimentos, e de haver possibilidade de expansão, soam promissores. Além disso, a mudança que o país assistiu recentemente – com a aliança entre a Volkswagen e a Ford, que vai fechar sua unidade histórica de São Bernardo do Campo (SP) – mostra que apostar em competitividade, exportações e cadeias globais de produção podem trazer um alento ao combalido setor industrial brasileiro.


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