O streaming virou o campo de disputa das grandes empresas de entretenimento e mídia pelo tempo e o dinheiro do consumidor. De olho neste mercado bilionário, a Warner, empresa da operadora AT&T, e a Discovery anunciaram uma fusão que criará uma gigante do setor: a nova companhia terá valor de US$ 150 bilhões (R$ 790 bilhões) e será a segunda maior em faturamento, atrás apenas da Disney. Mas sua força ainda precisará ser provada. Mesmo com a fusão, a Netflix continua líder no número de assinantes, com 208 milhões de pagantes no mundo — 17 milhões no Brasil.

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O acordo teve o valor de US$ 43 bilhões (R$ 225,7 bilhões) e a empresa resultante da fusão será comandada por David Zaslav, atual executivo-chefe da Discovery. As perspectivas da nova empresa são promissoras quando a fusão for aprovada, o que deve levar até 12 meses. A companhia terá todo o acervo da Warner Brothers e da Discovery, além dos canais da HBO, da TNT e da emissora de televisão CNN. No total, serão 15 marcas internacionais de peso. A empresa terá novo nome a ser anunciado em breve. O negócio marcou uma reviravolta na estratégia da gigante de telefonia AT&T. Em 2018, a companhia foi muito criticada ao pagar US$ 85 bilhões (R$ 446,2 bilhões) para comprar o grupo Time Warner, em negócio que um analista americano definiu como o “mais burro da história”. A empresa considerava que poderia catapultar seu negócio de telefonia com o conteúdo de entretenimento. Mas a explosão do streaming provocou uma mudança de comportamento nos consumidores, afetando o plano de negócios dos estúdios.

Zaslav afirma que a nova companhia será capaz de se diferenciar tanto da Netflix como da Disney ao oferecer um conteúdo sólido com filmes, esportes, notícias e minisséries como “Game of Thrones” e “Harry Potter”. Ele afirmou que a empresa manterá a CNN para “ser uma líder mundial em notícias”. Zaslav projeta que o streaming combinado das duas empresas chegará a 400 milhões de assinantes, quatro vezes mais do que os atuais 100 milhões.

Efeitos no Brasil

Especialistas ainda avaliam a nova estratégia da AT&T. A operadora tem uma dívida gigantesca de US$ 170 bilhões (R$ 892 bilhões). Nos últimos anos, a empresa foi ameaçada em telefonia pela Verizon, e precisa do dinheiro para abater o endividamento e tornar-se competitiva em serviços 5G nos EUA. “A AT&T enterrou bilhões de dólares na HBO e conquistou apenas 20 milhões de assinantes”, comenta Márcio Kanamaru, sócio de tecnologia, mídia e telecom da consultoria KPMG. Ele lembra que o mercado de streaming é de capital intensivo, porque exige que as empresas invistam sempre na produção de novo conteúdo. O sucesso da Netflix, em parte, foi ter tido a visão de criar minisséries de sucesso como “House of Cards”. “A Netflix investe pesado para produzir conteúdo. Em 2019, foram US$ 14,4 bilhões e, em 2020, mais US$ 12,3 bilhões”, afirma Alberto Amparo, analista de investimentos na Suno Research. Ele diz que a nova empresa da Warner/Discovery virá para o Brasil com força, contando com a “vasta biblioteca de conteúdo da Warner” como trunfo. Amparo ressalta que, em 2020, Warner e Discovery investiram US$ 20 bilhões para produzir conteúdo, um volume maior do que a Netflix.

Investimento em séries como “Game of Thrones” foi de US$ 20 bilhões no ano passado

No Brasil, a nova empresa enfrentará também a Globoplay, que conta com parte do acervo da TV Globo e é forte em conteúdo local. “A indústria do streaming está apoiada em quatro pilares: plataforma, conteúdo, marketing e distribuição”, analisa Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM. “Sem dúvida, a empresa da Warner/Discovery terá seu streaming no Brasil. As empresas não disputam apenas o dinheiro, mas principalmente o tempo e a atenção do consumidor”, diz. Martinho avalia que a Discovery conhece o consumidor, mas não tem um canal de distribuição para chegar a ele – este seria mais um motivo para a fusão com a Warner, que possui um serviço de streaming consolidado. “Esta é a diferença do streaming para a TV a cabo, onde os canais negociam com as operadoras. No streaming os canais chegam diretamente ao consumidor”, explica.

A consultoria alemã Statista projeta que o mercado de streaming deverá gerar uma receita de US$ 71 bilhões em 2022, com a possibilidade de alcançar US$ 108 bilhões em 2025. As empresas de streaming querem uma fatia desta soma fabulosa.