Ciência/Inovação  1978

Anna Paula Caldeira percebeu que era uma criança especial quando tinha de quatro para cinco anos de idade. “Depois da ligação de um jornalista, perguntei para minha mãe por que queriam tanto saber como eu tinha nascido e se eu estava bem”, diz Anna Paula. Ela foi o primeiro bebê de proveta brasileiro. “Minha mãe então explicou que o tio [Milton] Nakamura, como eu chamava o médico responsável pelo processo, ajudou a pegar a sementinha da mamãe e a sementinha do papai e misturar fora da barriga, diferente de como as outras crianças eram geradas”, recorda ela, hoje com 32 anos.

A curiosidade a respeito de Anna Paula, nascida em São José dos Pinhais, Paraná, tinha sua razão de ser. Até 1978, quando nasceu na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê concebido por fertilização in vitro, a chance de a pessoas com problemas de fertilidade conseguirem ter um bebê eram de menos de 20%. Os procedimentos para estimular a gravidez resumiam-se a colocar espermatozóides no útero por meio de um cateter. Depois do sucesso da inseminação artificial, em que a fecundação acontece em laboratório e o embrião é então transferido para o útero, as chances de gravidez passaram para até 70% em mulheres que consigam produzir embriões de qualidade.

Com o mundo querendo saber em que medida a técnica era bem sucedida, Anna Paula virou celebridade. “Da minha experiência, pude dimensionar o desespero e o amor com que casais que não podem ter filhos desejam ser pais. O avanço da medicina trouxe a possibilidade de suprir esse desejo intrínseco do ser humano de amar incondicionalmente e perpetuar a espécie.” Nesse avanço, foram desenvolvidos, de lá para cá, novos métodos de inseminação, congelamento e identificação de embriões com alterações genéticas. O método também passou a ser usado em larga escala pelo agronegócio.

Qualidade de vida

“Jamais me senti diferente de ninguém”, diz ela. “Afinal de contas, nunca tive nenhuma dificuldade de aprendizagem, familiar ou até mesmo física (uma das perguntas mais recorrentes era se eu tinha nascido com deformações).” Graduada em nutrição e pós-graduada em marketing, Anna Paula mora hoje nos EUA e trabalha com projetos que envolvem a promoção de estratégias de qualidade de vida. “Numa perspectiva maior, acredito que uma geração ‘bem amada’ contribui para um mundo melhor. Acredito que uma sociedade com base familiar sólida — seja com pais do mesmo ou de diferentes gêneros, com filhos biológicos ou adotados — faz a diferença, sustentada pelo amor.”

Traduzir os avanços da ciência e explicar o impacto das novas conquistas da medicina são compromissos que ISTOÉ tem mantido desde seu nascimento, anos antes do bebê de proveta.

“O avanço da medicina trouxe a possibilidade de suprir o desejo perpetuar a espécie” Anna Paula Caldeira, 32 anos, primeiro bebê de proveta do Brasil
“O avanço da medicina trouxe a possibilidade de suprir o desejo perpetuar a espécie” Anna Paula Caldeira, 32 anos, primeiro bebê de proveta do Brasil