Jair Bolsonaro cometeu crime ao dizer que iria interferir na PF para defender parentes e amigos? Sim. Isso configura crime por obstrução de Justiça como sugeriu o procurador-geral da República, Augusto Aras, ao mandar o Supremo investigar as denúncias de Moro? O vídeo prova que sim. Mas, aí, vem o nó da questão. Aras denunciará Bolsonaro pelos crimes de que é acusado? Há dúvidas. Afinal, quando foi escolhido para a Procuradoria-Geral, fora da lista tríplice, já houve a suspeita de que fora indicado pela proximidade com o mandatário. Não é à toa que, antes da divulgação do vídeo, Bolsonaro disse que poderia indicá-lo para o STF. O capitão sabia muito bem o que tinha no vídeo e que fatalmente ficaria nas mãos do PGR, mas ainda é impossível antecipar sua posição.

Processo

Supondo que Aras denuncie Bolsonaro, tanto pelas conclusões do vídeo, como por tudo o que há nas investigações, depoimentos do ex-ministro, mensagens de celulares e oitivas de delegados da PF, o Supremo receberá a denúncia? Sim. E o aloprado Weintraub ajudará sobejamente. Diante disso, a Câmara autorizará o início do processo? Dificilmente.

Centrão

E por que não? Ora, como Bolsonaro sabia o que continha no vídeo, passou um mês oferecendo mundos e fundos
ao Centrão (cargos e outras benesses, típicas do que gente como Jefferson e Valdemar sempre se locupletaram). Neste momento, Bolsonaro tem pelo menos 200 deputados no bolso. E para a denúncia ser rejeitada são necessários só 172 votos.

“A verdade vos libertará”

Marcos Correa

O presidente passa o tempo todo repetindo essa passagem do Novo Testamento, mas bastou a divulgação do vídeo para mostrar que ele não leva a fé a sério. Sergio Moro aproveitou-se das mentiras do capitão sobre a interferência na PF para desmascará-lo. “A verdade foi dita, exposta em vídeo, e comprovada com fatos posteriores: a demissão do diretor da PF e a troca do superintendente do RJ”, afirmou.

Rápidas

* Nelson Teich mostrou que ainda não superou o trauma que sofreu com a fritura de Bolsonaro, forçando-o a pedir demissão após menos de um mês no cargo de ministro. Rejeitou o convite do general Eduardo Pazuello, interino na Saúde, para ser conselheiro do ministério.

* Já Mandetta diz que vai esperar a quarentena imposta pela Comissão de Ética da Presidência para arrumar emprego. Por enquanto, dá palpites a governadores como Ronaldo Caiado (Goiás) e Helder Barbalho (Pará).

* Essa conversa de que Bolsonaro quer dar um golpe militar não faz o menor sentido. Os oficiais já tomaram conta do governo: mais da metade dos ministros são generais e 1.271 militares têm cargos na administração do capitão.

* Com a saída de Teich da Saúde, o general interino já nomeou 22 militares para postos-chave no ministério. Precisa oficializar que vivemos em uma espécie de regime militar sem ter havido um único ranger de dentes?

Retrato falado

“Tem que vender essa porra do Banco do Brasil logo” (Crédito:Marcos Corrêa/PR)

Guedes ficou nu na reunião ministerial. Deixou claro por que foi escolhido como superministro: pensa como o chefe. Além de dizer que os pequenos empresários que se danem e que o governo tem mesmo é que socorrer os grandes, ficando sócio deles, o ministro mostrou que também não está nem aí para o patrimônio público. Quer se livrar
do BB sem planejamento. Sem contar que no meio da pandemia há outras coisas mais urgentes, como traçar planos para a retomada da economia.

A traição

Bolsonaro pode ser ignorante, tosco, chulo ou incompetente, como vários políticos o classificam, mas uma coisa ele não é: neófito na política. Sabia que a “fita” seria divulgada na sexta-feira, 22, e conhecia o efeito explosivo que a sua exibição traria. Por isso mesmo, marcou a reunião com os governadores para a véspera, quinta-feira, 21. Reunião esta realizada a pretexto de levantar a bandeira branca aos chefes dos governos estaduais. Cara de pau, Bolsonaro sabia que se chamasse os governadores para o diálogo depois do vídeo, seria repelido. Afinal, chamou João Doria (SP) de “bosta” e Wilson Witzel (RJ) de “estrume”. E não liberou o dinheiro dos Estados.

Goiabeira

Sem contar que a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, disse na reunião que iria mandar prender governadores e prefeitos que pedem o isolamento social. Foi uma das raras menções à Covid-19 em duas horas de reunião. Bolsonaro nada faz no combate ao vírus, que já matou quase 30 mil pessoas.

A ratoeira

Quando soube que o ministro Celso de Mello poderia mandar apreender seu celular, Bolsonaro disse que só o entregaria “se fosse um rato”. Mas a deputada Joice Hasselmann, ex-aliada do presidente, avisou: “Qual celular será apreendido? Bolsonaro troca de aparelho a cada quatro meses e tem vários. Sem contar que já apagou tudo”, advertiu.

Geraldo Magela

Telefone ao mar

A apreensão de celulares poderia também alcançar os aparelhos de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro. “O problema é que a esta altura, Carluxo já deve ter jogado o telefone no mar, como fez com o laptop solicitado pela CPMI das Fakes News”, lembrou a deputada, que denunciou “os meninos” de Bolsonaro por espalharem notícias falsas na praça.

Bolsonaro vira-casaca

Gilvan de Souza/Agência O Dia

Ao ver pela TV o presidente dando entrevista na porta do Alvorada na noite de sexta-feira, 22, o empresário Paulo Marinho não se conteve. “Capitão, fico feliz de vê-lo bem agasalhado com um dos casacos que lhe dei quando fui visitá-lo no hospital em companhia do nosso saudoso amigo Gustavo Bebianno”.

Toma lá dá cá

Marcelo Ramos, Deputado (PL-AM)

Como o senhor acompanha a crise da saúde em Manaus?
Em que pese a constatação de que há uma queda progressiva de casos em Manaus, há o agravamento no interior, que já supera a capital.

O senhor acha que é inevitável o colapso no sistema de saúde no Estado?
O sistema de saúde do Amazonas já estava em crise antes da pandemia. A doença apenas a agravou. São poucos leitos de UTI, concentrados na capital, e isso é preocupante.

Os governos têm falhado no combate à pandemia no seu estado?
O que tem falhado até aqui é a falta de entendimento entre o governo federal com os estados e municípios. A reunião entre o presidente e governadores sinaliza que teremos mais unidade pela frente. Tomara.