Enquanto os projetos para voltar a encher o Jockey Club ainda estão no campo das ideias, quem vive do turfe na capital paulista segura as pontas para manter vivo o esporte na cidade. São comuns relatos de vaquinhas entre proprietários e treinadores para manter em dia o salário dos funcionários.

Os muros das cocheiras – vizinhas “parede a parede” da movimentadíssima Marginal do Pinheiros – conseguem separar-se do caos da capital, dando ares de vida de interior ao lugar. Ali, a vida começa às 5 horas, sem feriado nem fins de semana.

O valor “popular” para criar um cavalo de corrida é de R$ 2 mil mensais. O preço do animal varia, é definido em leilões, de acordo com o histórico de antecedentes do potro. Depois de comprados, os bichos são confiados aos treinadores, que têm a missão de torná-los competitivos – a ponto de, no futuro, se tornarem reprodutores. “Tem grupos de amigos que são sócios, compram um cavalo e dividem as despesas”, diz o veterinário José Luiz Aranha, um dos principais treinadores de cavalos do Jockey Club.

Aranha, também comentarista de turfe, é um dos retratos da paixão pelo esporte. Começou a treinar a contragosto do pai, já morto, mas ganhou sua bênção por causa dos resultados.

“Pela manhã, a gente vê como a animal passou a noite, se comeu, como está, segue uma rotina de treinos”, explica. Em suas cocheiras, há uma planilha detalhando como será o treino de cada cavalo que cuida e se naquele dia o bicho terá mais alfafa ou mais milho. Também tem disposição de contar detalhes sobre aspectos nada interessantes nos bichos, como as causas para suas constante cólicas. Todo o cuidado e metódica lhe rendem comparações com o técnico Tite, da Seleção Brasileira, e sua “jogabilidade”.

Outro treinador que simboliza o Jockey é Mario André Nunes Gonçalves, de 50 anos. Nascido em Bajé, no Rio Grande do Sul, cuidava dos cavalos da família quando era pequeno e chegou a ser jóquei – as exigências de peso e altura o tiraram dos páreos, “além das quedas, que são frequentes”. Seu treinamento tem por base a observação de cada animal, desenvolvendo um relacionamento com os bichos.

“Isto aqui é um compromisso. É como um casamento, como criar um filho”, diz. Seu jeito instintivo traz novamente o paralelo com treinadores de futebol. Mas está mais para Renato Gaúcho, que escala o time sem apostar em treinos rígidos.

Ambos disputam uma competição particular de melhor técnico da cidade – há um troféu real, dado a cada fim de temporada, e ambos já o venceram. E os dois também demonstram expectativa positiva diante dos planos da nova direção. “O Jockey tem de se atualizar, e esse pessoal deve profissionalizar mais a gestão”, diz Gonçalves. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.