O narcotráfico, que interfere na política, as forças armadas próximas da esquerda no poder e a cruzada anti-imigrantes do presidente americano, Donald Trump, são os temas centrais das eleições do próximo domingo (30) em Honduras.
O pleito ocorrerá em um clima de tensão, pois os três candidatos favoritos à Presidência – os direitistas Salvador Nasralla (Partido Liberal, PL) e Nasry Asfura (Partido Nacional, PN), e a esquerdista Rixi Moncada (Partido Libre, no poder) – trocam acusações de planejar uma fraude.
Além do presidente, os hondurenhos também elegerão deputados e prefeitos para os próximos quatro anos.
– As Forças Armadas –
Executores do golpe de Estado de direita que derrubou Manuel Zelaya, marido da atual mandatária, Xiomara Castro, há 16 anos, os militares agora têm uma estreita relação com a família presidencial de esquerda.
Há algumas semanas, as Forças Armadas solicitaram ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acesso às atas para verificar a contagem de votos, embora a Constituição apenas lhes conceda a função de guardar o material das eleições.
“É preocupante porque atualmente respondem à presidente” e essa “extrapolação de funções” colocaria as eleições “em um cenário muito adverso”, disse à AFP a diretora para a América Central do Escritório em Washington para a América Latina (WOLA, na sigla em inglês), Ana María Méndez.
Apesar de rejeitada pelo CNE, a solicitação gerou temores de uma intromissão dos militares a favor do partido Libre caso surjam alegações de fraude no domingo, sobretudo pela ausência de um árbitro independente, já que o órgão eleitoral está politizado.
Castro esteve perto de cancelar o tratado de extradição com os Estados Unidos, após Washington criticar uma reunião da cúpula militar hondurenha com um general venezuelano acusado de narcotráfico.
A presidente, aliada do mandatário venezuelano Nicolás Maduro, suspeita que a Casa Branca esteja buscando a extradição de militares leais ao governo para incitar outro golpe de Estado.
– Influência do narcotráfico –
Embora o governo e os candidatos presidenciais se distanciem do tráfico de drogas, há anos os cartéis locais Los Cachiros e Valle Valle influenciam a política hondurenha.
“Há políticos, deputados e prefeitos dos três partidos envolvidos. O narcotráfico não faz distinção” entre ideologias, comentou à AFP o ex-agente de operações da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) Mike Vigil.
Acusado de transformar Honduras em uma super-rodovia para a cocaína e em um narcoestado, o ex-presidente Juan Orlando Hernández, figura máxima do PN, foi extraditado para os Estados Unidos e condenado em 2024 a 45 anos de prisão.
No PL, o poderoso líder Yani Rosenthal, candidato à Presidência em 2021, cumpriu pena nos EUA por lavagem de dinheiro do narcotráfico.
Em 2024, um vídeo vazado mostrou o deputado Carlos Zelaya, irmão do ex-presidente, reunido com chefes do narcotráfico em uma suposta negociação de contribuições para a campanha do Libre em 2013. O governo negou ter conhecimento da gravação.
“Os narcotraficantes tentam manipular as eleições porque não podem operar sem a proteção de certos políticos”, alertou Vigil.
– Era Trump –
Ao contrário de quatro anos atrás, quando a esquerda chegou ao poder, desta vez Honduras sofre os impactos da política anti-imigração de Trump.
Os Estados Unidos deportaram 27.000 migrantes hondurenhos em 2025 e revogaram o Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês) de 51.000. Honduras, onde seis em cada 10 pessoas vivem na pobreza, recebeu 10 bilhões de dólares (R$ 54 bilhões, na cotação da época) em remessas em 2024 (27% do PIB).
“Virão tempos difíceis e, paradoxalmente, os candidatos não abordam esse tema”, afirmou Manuel Orozco, diretor do programa Migração do Diálogo Interamericano.
Cada candidato fez, segundo sua ideologia, algum aceno a Trump.
Moncada diz que respeitará o tratado de extradição com Washington, questionado por Castro. Nasralla prometeu romper com a Venezuela e, assim como Asfura, promover um diálogo melhor com o governo americano. Ambos expressaram disposição de se aproximar de Taiwan, depois que Castro restabeleceu relações com a China em 2023.
Honduras, assim como a Nicarágua, foi excluída este ano de uma escala na visita do secretário de Estado americano, Marco Rubio, à América Central.
Na terça-feira, em uma reunião da Organização dos Estados Americanos, o vice-secretário de Estado, Christopher Landau, pediu que se exija em Honduras um processo eleitoral “livre de fraude e violência”. Washington advertiu que, caso haja perturbações ao processo eleitoral, responderá “com firmeza”.
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