“Se morrermos na prisão na Itália, a quem isso vai aliviar?” Diante dos novos pedidos de extradição, dez ex-militantes de extrema esquerda italianos esperam que a Justiça francesa cumpra a palavra do ex-presidente François Mitterrand, que lhes permitiu reconstruir suas vidas por 40 anos na França.

“A extradição não faz sentido, nem legal, nem humano, nem político”, afirma Sergio Tornaghi, um dos poucos que concordou em falar à AFP sobre sua juventude na Itália.

Assim como ele, sete homens e duas mulheres de entre 61 e 78 anos, ex-membros das Brigadas Vermelhas e outros grupos armados e condenados por sua participação em assassinatos políticos durante os “anos de chumbo” (1970-1980), aguardam as decisões da Justiça francesa, que poderia anunciar na quarta-feira se autoriza ou não sua extradição à Itália.

Seus defensores denunciam a atitude do presidente Emmanuel Macron, que autorizou a análise dessas novas solicitações e traiu, segundo eles, a “doutrina Mitterrand”, baseada no compromisso do ex-presidente francês de não extraditar várias centenas de ex-militantes que romperam com seu passado.

Tornaghi foi condenado à revelia à prisão perpétua por ordenar o assassinato do chefe de equipe de sua fábrica, Renato Briano, em uma emboscada em 1980 no metrô de Milão.

Graças à promessa de Mitterrand, ele foi poupado de longos anos atrás das grades.

No entanto, depois de quatro décadas na França, onde fez carreira na computação e teve duas filhas, esse ex-integrante das Brigadas Vermelhas não “entende” a reativação de um processo de extradição contra ele, que os juízes franceses já rejeitaram duas vezes, em 1986 e 1998.

– “Julgamentos em massa” –

Tornaghi, de 64 anos, natural da Lombardia, alega sua inocência, assim como outros ex-militantes que agora são reivindicados pela Itália.

Este ex-comunista afirma que se limitou ao “ramo político” das Brigadas Vermelhas, ou seja, que teria apenas “distribuído panfletos” e “aderido a uma doutrina que dizia que os trabalhadores tinham que tomar o poder sozinhos”, sem participar “de nenhuma operação militar”.

“Ninguém entende nada daquele tempo”, afirma, lembrando os “julgamentos em massa e expeditivos” que ocorreram na Itália na época, marcados pelo “peso das declarações de arrependimento” em troca da remissão da pena.

Durante o julgamento, os magistrados julgaram mais de 90 pessoas em três meses e examinaram todos os crimes – assassinatos, sequestros, roubos, propaganda subversiva – atribuídos na década de 1970 à chamada “coluna Walter Alasia” das Brigadas Vermelhas.

Esta década sombria deixou uma marca indelével na Itália.

O país esteve envolvido em violentas lutas sociais e no confronto entre uma extrema direita que cometeu ataques indiscriminados e uma extrema esquerda composta por vários grupos revolucionários.

Alguns deles, como as Brigadas Vermelhas, assassinaram seletivamente sindicalistas, magistrados, jornalistas, policiais e líderes políticos.

Esses “anos de chumbo” resultaram em mais de 360 mortes atribuídas a ambos os lados, milhares de feridos, 10.000 prisões e 5.000 condenações.

– “Anistia” –

Foi neste “contexto político” que François Mitterrand tomou a decisão, recorda Tornaghi, agora “chocado” com as “comparações repugnantes” feitas pelo ministro da Justiça francês, Eric Dupond-Moretti, que o equiparou e aos seus antigos colegas com os “Terroristas do Bataclan”, que mataram 90 pessoas em um show em Paris em 13 de novembro de 2015.

Na Itália, no entanto, há um amplo consenso sobre a extradição de exilados.

“As sentenças podem ser debatidas e criticadas, mas devem sempre ser respeitadas. O caminho da justiça digna deste nome só pode acabar com a execução da sentença”, declarou à AFP Ambra Minervini, vice-presidente da associação Vítimas do Dever, cujo pai, um juiz, foi assassinado em 1980 pelas Brigadas Vermelhas.