As advogadas dos fundadores do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, origem do escândalo dos “Panama Papers” em 2016, criticaram, nesta terça-feira (9), o julgamento contra seus clientes por suposta lavagem de dinheiro.

Cerca de trinta pessoas, incluindo Ramón Fonseca, de 71 anos, e Jürguen Mossack, de 76 anos, fundadores do escritório, estão sendo julgadas desde segunda-feira no Panamá, oito anos depois que este escândalo veio à tona, revelando como personalidades de todo o mundo teriam escondido dinheiro através do antigo escritório panamenho.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e os ex-governantes da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson; do Paquistão, Nawaz Sharif; do Reino Unido, David Cameron; e da Argentina, Mauricio Macri, além do astro argentino do futebol Lionel Messi, foram alguns dos nomes mencionados na época.

“Não vimos o presidente da Rússia envolvido nisto, não vimos a rainha Elizabeth II e sua coroa envolvida nisto, como foi dito nos meios de comunicação”, disse à AFP a advogada Daika Indira Levy, que defende Fonseca.

A falecida monarca britânica foi mencionada nos chamados “Paradise Papers”, publicados em novembro de 2017.

“Isso é uma vergonha, supostamente este era o caso emblemático da promotoria do Panamá e que foi um caso de repercussão internacional onde milhares e milhares de pessoas estavam envolvidas na ocultação de capitais”, indicou Levy.

“A verdade é que, depois de mais de 500 volumes [de arquivos], nos deparamos com o caso Siemens [na Alemanha] e um caso na Argentina, das milhares e milhares de pessoas que supostamente estiveram envolvidas”, acrescentou a advogada.

A promotoria panamenha acusa a Mossack Fonseca, entre outras acusações, de criar sociedades laranjas para que executivos da empresa alemã Siemens depositassem fundos para o pagamento de comissões no exterior.

Mas os advogados de Fonseca e Mossack afirmam que o escritório panamenho não cometeu nenhum crime na criação das sociedades que teriam sido usadas para esconder dinheiro.

“Não há nenhum crime nesta causa”, afirmou à AFP Guillermina Mc Donald, advogada de Mossack.

No entanto, a promotora Isis Soto afirmou nesta terça-feira que, numa audiência preliminar, “já foi comprovado” o crime de lavagem de capitais.

A advogada Mc Donald também manifestou seu temor de que a decisão judicial seja condicionada pela pressão internacional, devido ao impacto que este caso teve em vários países.

“Somos humanos e tenho minhas dúvidas de que seja possível separar a parte midiática e a pressão de outros organismos do direito, onde eles teriam que ser inocentados”, afirmou Mc Donald.

“Não sou responsável” por esses crimes, declarou Mossack à juíza Baloísa Marquínez no início da audiência.

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