Quando prefeito de São Paulo, nos anos 1980, Jânio Quadros causou algum furor com a intenção de adotar na frota paulistana os ônibus de dois andares, característicos das ruas de Londres. Auxiliares próximos a ele contam que Jânio se referia ao projeto, que não saiu do papel, como “uma marca que deixaria na cidade.” Bem, o que dizer então sobre a atual discussão sobre tarifa zero nos ônibus da cidade, ideia para a qual o prefeito Ricardo Nunes (MDB) requisitou um estudo técnico?

Se é difícil imaginar o impacto que uma medida dessas pode trazer, além de uma consagração política de Nunes, mais difícil ainda é descobrir de onde sairia o dinheiro. Os números nesse cenário são implacáveis. A passagem, congelada em R$ 4,40 desde janeiro do ano passado, estaria hoje com um valor de custo de R$ 7,92, segundo as empresas de ônibus. Em 2021, a Prefeitura repassou a esses empresários R$ 3,3 bilhões, e, neste ano, o montante subiu para perto de R$ 4,6 bilhões. E, segundo todos os elos da corrente do transporte público, ainda é insuficiente.

Nunes faz o que pode para manter a ideia na pauta do dia. Dá um prazo de 60 dias para a SPTrans concluir o estudo. Expõe raiva ao dizer que o estudo não deveria ter sido revelado à imprensa. Seus colaboradores tratam de inserir na discussão inúmeras cidades do País, cerca de 40, que estão tratando da mesma questão, algumas em estágio mais avançado. Claro que nenhuma das localidades chega perto da grandeza da cidade de São Paulo e seu entorno. Discutir tarifa na pequena e simpática Holambra é brincadeira de criança numa comparação com questões financeiras e logísticas de uma proposta para passagem liberada na capital.

Essa suposta cruzada de Nunes pelo ônibus gratuito pode patinar sem chegar a lugar algum…