O historiador e militante Jones Manoel, de 35 anos, é dono de um dos perfis políticos que mais cresce nas redes sociais. Filiado ao coletivo PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) — que não é reconhecido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) — o pernambucano conseguiu amplo alcance após participar de debates contra figuras da direita e relatou em diálogo com a IstoÉ que deseja concorrer nas eleições de 2026.
+ Malafaia diz que ‘não é bolsominion’ e pode criticar ou elogiar Bolsonaro e Lula
+ Esquerda vai continuar sendo massacrada nas redes se não regularmos, afirma Gleisi
Nascido na favela do Borborema, Jones Manoel se politizou pelo rap e concorreu para o cargo de governador de Pernambuco pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) nas eleições de 2022, ocasião em que deixou a disputa no primeiro turno, após receber 33.931 votos.
Se manifestando como um marxista-leninista e comunista, Jones Manoel é dono do perfil político que mais cresceu no Instagram nos últimos 90 dias, conforme dados da Palver publicados pela “Folha de S. Paulo”. A conta do historiador teve uma alta maior do que figuras amplamente conhecidas como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao longo dos últimos meses, o militante participou de debates contra o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e o influenciador Wilker Leão, conhecido por chamar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “tchutchuca do Centrão” e fazer vídeos com a promessa de combater uma suposta doutrinação nas universidades brasileiras.
“Eu não sou petista nem lulista, então é muito difícil para as figuras de direita e extrema-direita quando vão debater comigo querer ganhar o debate jogando no meu colo as contradições do governo Lula. […] Eu ser de fato comunista, de não ter compromisso com o lulismo, com o petismo, faz com que eu não precise prestar contas dos erros e das contradições [da gestão do PT]”, considera o historiador.
Para Jones, sua participação nos conteúdos em que confronta personalidades da direita cumpre um papel ideológico de mostrar de fato quais são os ideais marxistas. “Se criou um falso debate que é chamar o PT e o Lula de comunistas. O Lula e o PT não são comunistas. Eu sou”, pontua.
É por isso que o historiador conta que é necessária uma candidatura “de fato de esquerda” em 2026. “Venho me colocando como pré-candidato à Presidência da República. A gente está fazendo esse debate no âmbito do partido”, declara Jones Manoel.
Sendo dirigente nacional do PCBR, um partido que não é registrado pelo TSE e portanto impedido de disputar eleições, Jones Manoel considera lançar candidaturas em acordos com outras siglas de esquerda, como PSOL, PSTU e UP, para concorrer à Presidência ou a um cargo na Câmara dos Deputados. O assunto, segundo o historiador, ainda é discutido no coletivo que integra.
“Quero estar nas eleições porque eu acho que a gente precisa lembrar que a disputa política, de consciência, se faz no dia a dia e não só no momento eleitoral, uma coisa que boa parte da esquerda no Brasil esqueceu”, pondera.
Crescimento nas redes sociais

O historiador e influenciador de esquerda Jones Manoel (Crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Jones conta que começou seu trabalho nas redes sociais com um blog em 2014 antes de migrar para a produção de vídeos. Em 2018, o historiador iniciou um canal no YouTube que hoje soma mais de 500 mil inscritos.
“A dinâmica da comunicação digital estava pedindo muito mais vídeo do que texto. […] O canal demorou bastante para decolar, eu diria que só se consolidou mesmo em 2019”, comenta o historiador sobre a sua trajetória nas redes sociais.
O último conteúdo de maior repercussão de Jones Manoel foi um debate publicado pelo canal “Spectrum” intitulado de “1 comunista x 20 conservadores”, que superou três milhões de visualizações.
O historiador afirma que passa em 2025 pelo “maior momento de crescimento da agitação e propaganda marxista” que ele faz nas redes sociais. Jones considera que conseguiu encontrar um “equilíbrio” entre o elemento de “espetáculo” em debates, algo que possui um alcance maior no ambiente digital, com conteúdo teórico comunista.
“A gente compreendeu muito bem a dinâmica e a lógica das redes sociais. Então, por exemplo, todos os debates que eu fiz, enquanto eu fazia o debate, minha equipe fazia uma cobertura ao vivo e subia reels, cortes das minhas falas, material para as redes”, explica o pernambucano.
A esquerda no ambiente digital
Apesar do crescimento, Jones Manoel sofreu um revés ao ter suas contas nas plataformas da Meta — empresa que administra o Instagram e o Facebook — removidas sem justificativa oficial no início de agosto. O historiador entrou com um processo contra a companhia para obter uma indenização e uma razão pela derrubada dos perfis.
Por entender as big techs como empresas que favorecem a extrema-direita, o militante considera que as redes sociais não são terreno para um debate crítico e de esquerda. “Há uma agenda política muito clara ligada aos interesses dos Estados Unidos”, considera Jones Manoel.
O historiador aponta que, além disso, a esquerda perdeu espaço nas redes sociais por não compreender a dinâmica da comunicação digital por estar “muito presa em gabinetes políticos” e “desconhecer o que a classe trabalhadora consome”. “As grandes novidades dos últimos tempos em termos de pauta da esquerda não surgiram dos partidos tradicionais. Pense por exemplo em como surgiu a pauta pelo fim da escala 6×1.”
Ameaças neonazistas
Apesar de ter um palco maior para expor seus ideais, o crescimento nas redes sociais não trouxe apenas elementos positivos. Em 20 de agosto, Jones Manoel utilizou suas redes sociais para denunciar uma ameaça. Em seu e-mail, o militante recebeu uma mensagem de uma organização que se intitulava como “Brigada Hitlerista Brasileira (Atomwaffem Brasil)” com conteúdos racistas e uma tentativa de extorsão.
A ameaça demandava um pagamento em dinheiro para que Jones Manoel não fosse assassinado. O grupo alegava que o influenciador de esquerda estava “na linha da bala há seis meses”. Além disso, a mensagem continha dados pessoais do pernambucano.
“Minha grande preocupação é com a minha família. […] Sendo muito sincero isso não me afeta psicologicamente. Não fico mal, não perco o sono. Eu tomo os devidos cuidados de segurança”, contou o historiador, acrescentando que está sendo acompanhado pelo Ministério dos Direitos Humanos e acionou as autoridades.
“Não vamos deixar esse caso no esquecimento. Só descanso quando esse grupo neonazista estiver desmontado e todo mundo preso”, conclui Jones Manoel.
**Estagiário sob supervisão