O ator Stênio Garcia, de 92 anos, relembrou seus 71 anos de carreira, criticou autores novos e defendeu que os atores valorizem seu trabalho, não se deixando “leiloar por menos” do que realmente valem.
“Os autores novos não sabem mais escrever para as pessoas mais velhas, mas o Brasil está cheio de idosos. Para que um idoso trabalhe, o autor precisa saber escrever para ele. Ouvi o Tarcísio Meira dizer isso e aquilo bateu fundo em mim. Os grandes autores morreram ou não estão mais trabalhando”, disse o veterano em entrevista à Quem.
Stênio também defendeu que os atores valorizem seu trabalho. “Se o ator não empreende e depende do audiovisual, que é o que paga melhor, ele não vive, porque não há constância. Todos os modelos de trabalho são por obra e, de repente, quando o ator é muito bom, surgem as diárias. Não podemos nos deixar leiloar por menos do que valemos.”
“É muito difícil escolher o trabalho e contracenar com pessoas que não têm ideia do que estão fazendo ali. Não tenho mais pressa, já ganhei todos os prêmios, já fiz tudo. Contracenar com um ator que não olha nos olhos? Não quero. Isso me desanima. Quero olhar nos olhos e entender o que ele está pensando.”
“Às vezes, fazíamos uma proposta de personagem e escrevíamos uma vida inteira de como ele seria no caderno. Uma vez, interpretando o Aleijadinho, amarrei a mão durante o laboratório para não usá-la, assim como ele, e me furei devido ao jeito como a fiz. Hoje, as pessoas não pesquisam mais os personagens”, destacou.
Por fim, o ator defendeu a valorização do teatro. “Tem a internet, que é de gente nova. Tem gente que não sabe quem sou, e tem gente que eu não sei quem é. Mas temos atores que conhecem um processo de criação que muitos atores jovens não conhecem. Atores que não se formaram no teatro, nas companhias de teatro, o que dá profundidade no exercício do ofício.”