Engana-se redondamente aquele que relaxar a guarda e baixar as armas, pois Jair Bolsonaro e seus extremistas, civis e militares, espalhados por todos os estratos da sociedade, ainda que representem ínfima parcela do eleitorado e dos cidadãos brasileiros, não desistiram ou abdicaram da sanha golpista, muito menos aceitaram a derrota imposta pelas urnas no último dia 30 de outubro. O aparente silêncio presidencial, no cercadinho, nas ruas e nas redes não me permite açodada conclusão de resignação, ao contrário, desperta-me sinceros sentimentos de preocupação, não pelo pior, um golpe de Estado de fato, mas novas perturbações sociais e econômicas com resultados ainda mais graves que os vistos, recentemente, durante os atos de alguns caminhoneiros e outros arruaceiros fascistoides.

A nota oficial emitida pelas Forças Armadas, assinada pelos comandantes das três armas, é um convite a bagunça política e social, já que envia sinais de fumaça para todos os lados, permitindo livres interpretações. Apreciadores do copo meio cheio dirão que foi um recado para o STF, TSE e o ministro Alexandre de Moraes em especial. Já quem prefere o copo meio vazio dirá que colocou limites na desordem civil. Investigações oficiais já encontraram provas de financiamento empresarial (em grupo ou individual) de atos antidemocráticos, bem como organizações criminosas, com milhares de membros reunidos em redes sociais, em permanente planejamento de ruptura institucional – e pouco me importam a precariedade e improvisação dos devaneios golpistas. É fato, portanto, que o movimento extremista não terminou.

A nota oficial emitida pelas Forças Armadas é um convite a bagunça política e social, já que envia sinais de fumaça para todos os lados

Por outro lado, confere segurança ao País os comunicados oficiais de nações estrangeiras, sobretudo Estados Unidos e membros da União Europeia, ao presidente eleito Lula da Silva, e convites para reuniões e eventos como a COP 27 e a planejada audiência com o presidente Joe Biden. Junto ao firme posicionamento do judiciário e executivo brasileiros, são as garantias de que nada irreversível irá ocorrer. Como é mesmo a frase atribuída ao irlandês John Philpot Curran (1750-1817)? “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Olhar aguçado, ouvido atento e voz estridente até, no mínimo, o primeiro minuto do dia 2 de janeiro de 2023, serão as armas dos democratas contra os autoritários do bolsonarismo combalido, mas longe de morto e muito menos enterrado.