Quando será mesmo que muita gente no Brasil vai sair dos séculos 18, 19? Tomara que aproveitem a virada de 2018 para 2019 para entrarem logo no século 21. Não dá mais para aguentar pessoas como a pastora e advogada Damares Alves, provável ministra de Direitos Humanos, Família e Mulheres no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, insistindo na história de que lugar de mulher é em casa, cuidando de filho e marido. Não dá mais para tolerar a defesa da ideia de que o principal papel feminino é o de ser mãe e que o modelo “cristão” de vida implica que sejam elas as responsáveis pelo desenvolvimento afetivo, intelectual e social de seus filhos. Não dá mais para suportar o pensamento de que, nesse tal modelo, o marido sustenta e enche a esposa de jóias e presentes, como disse a pastora em entrevista meses atrás. “Esse seria o padrão ideal de sociedade. Mas temos que ir para o mercado de trabalho.”

Não, pastora Damares. As mulheres não “têm” que ir para o mercado de trabalho quando, na verdade, desejariam estar em casa desfrutando dos proventos dos maridos. Isso pode ser verdade para uma pequena parcela da população feminina, mas por favor não generalize as coisas. Generalizar é o primeiro passo para erros grotescos. Generalizar quando se fala de um universo composto por mais de 105 milhões de mulheres, então, é um equívoco terrível.

Está tudo certo se para essas mulheres a felicidade estiver em ficar em casa cuidando da família enquanto o marido leva o sustento. Mas está errado defender que esse seja o “padrão ideal” de sociedade, em pleno 2018, quando grande parte das mulheres já se livrou de pelo menos algumas das armadilhas que lhes foram impostas ao longo dos séculos. Entre elas a de que nasceram com a única finalidade de serem mães e esposas. Hoje, elas podem se dedicar ao casamento e à maternidade se assim quiserem, não porque devem fazer isso.

Na verdade, o padrão ideal de sociedade é aquele no qual a mulher pode ser o que bem entender, sem precisar responder ou se adequar a figurinos ultrapassados. Não quer casar? Ok. Não quer ter filhos? Ok também. Deseja ter filhos sem se casar, quer dedicar a vida à carreira profissional, namorar outra mulher, descobrir que não se identifica com seu gênero e trocá-lo? Ok para todas as situações.

A liberdade de ser o que quiser é a grande conquista das mulheres dos dois últimos séculos, obtida a custo de muita luta contra os preconceitos morais e religiosos que cercearam as escolhas femininas até hoje. A vitória ainda não é total e a briga será longa. Mas já foi aberto o caminho para uma sociedade que respeita a vontade individual, de homens e mulheres, e que prevê responsabilidades compartilhadas entre pais e mães em relação ao desenvolvimento saudável dos filhos. Lugar de mulher, pastora Damares, é onde ela quiser estar. A sociedade ideal, Damares, é a que oferece as condições para que isso seja possível.

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