23/09/2022 - 13:36
No Mercado Santa Anita, em Lima, são vividos dias de angústia pela galopante alta no preço das batatas, alimento básico na dieta dos peruanos, cada vez mais inacessível para os mais pobres.
“A venda está péssima. As pessoas não querem mais comprar. Se não há batatas, não há vida para os peruanos”, disse Sonia Alanya, comerciante de Santa Anita, um movimentado mercado atacadista no leste de Lima que recebe diariamente cerca de 1.500 toneladas de 20 variedades de batatas, à AFP.
Segundo o Ministério da Agricultura, cada peruano come em média cerca de dois quilos de batatas por semana, mas os preços desse tubérculo triplicaram nos últimos meses em consequência da ofensiva russa na Ucrânia.
A batata amarela, ingrediente principal dos emblemáticos pratos da aclamada gastronomia peruana, como a “causa limeña”, ou um simples purê, já vale até oito sóis (US$ 2) o quilo, um preço que milhares de moradores de Lima não podem pagar.
Há pouco tempo, custava 2,5 sóis (US$ 0,60) nos supermercados e mercados varejistas desta capital com 10 milhões de habitantes.
“Todos estamos preocupados com o aumento (…). A batata é importante, é como o ar”, afirma outra comerciante, Sonia Yangale, de 39 anos, em conversa com a AFP.
– “Para o topo” –
Uma família peruana de quatro pessoas agora deve separar em torno de 240 sóis (US$ 60) por mês para manter o consumo de batatas. Hoje, o salário médio urbano é de 1.505 sóis, aproximadamente US$ 376.
“O preço da batata começou a subir progressivamente há cinco meses, mas agora está chegando ao topo”, disse a vendedora Herlinda Chamoro, 52 anos, à AFP.
Nas estatísticas oficiais, a alta deste alimento básico supera, disparadamente, a inflação. Desde janeiro, o preço das batatas amarelas subiu 39,9%, e das brancas, 24,9%, enquanto o IPC acumula uma variação de 6,13%.
O Peru tem mais de 3.500 tipos de batatas, “a maior variedade do mundo”, segundo o Ministério da Agricultura, e mais de 700 mil famílias vivem do seu cultivo.
– “A crise se agrava” –
No popular Mercado San Felipe de Surquillo, no sul de Lima, também há preocupação.
“Para nós, a batata é um tubérculo que não deve faltar na nossa mesa”, mas não há outra solução a não ser “diminuir o consumo”, lamenta a dona de casa Lucía Adrianzén, de 69 anos, em entrevista à AFP.
A alta das batatas também afeta o negócio gastronômico em um país com mais de 200 mil restaurantes, de preços para todos os bolsos.
“Tudo é cozinhado com batata, (mas) não podemos aumentar o cardápio, apesar do aumento”, porque as vendas cairiam, explica a cozinheira de um frequentado restaurante do Mercado San Felipe, Rayda Sayas, à AFP.
“A crise se agrava por não ter muito plantio, e isso por conta dos fertilizantes”, acrescenta Sayas.
“Agora, temos que buscar outras alternativas”, como a batata-doce, a mandioca, o feijão, ou as lentilhas, diz Martha Guerreros, outra dona de casa, de 61 anos.