Das questões debatidas durante a campanha, uma ainda não se desvencilhou do processo eleitoral: a postura da Prefeitura de São Paulo diante de um novo crescimento do contágio pela covid-19. O assunto ganhou força um dia após o resultado das urnas, quando o governador João Doria (PSDB), padrinho político do prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB), determinou o aumento da restrição de atividades no Estado. Em entrevista ao Estadão, Covas reafirmou o que havia dito na campanha: há estabilidade nos números e, por isso, não existe a necessidade de retroceder na flexibilização.

Um dia depois do segundo turno o governador João Doria anunciou restrições em São Paulo na quarentena. Na campanha, porém, o governador negava que haveria aumento da restrição. Esse anúncio gerou críticas. A narrativa eleitoral foi condizente com a prática? A capital será mais dura que o Estado, como foi em outros momentos?

Para a cidade de São Paulo continua valendo aquilo que eu disse na semana passada, em uma coletiva dez dias antes do primeiro turno. Há uma estabilidade da pandemia na cidade em relação ao número de casos e óbitos. Houve um aumento na quantidade de internações que foi acompanhado pelo aumento do número de pessoas de fora da cidade que estão internadas aqui. Para a vigilância sanitária do município não há nenhuma necessidade de retroceder qualquer flexibilização. Aqui na cidade de São Paulo só vamos aplicar as novas restrições do governo de São Paulo. Não há necessidade de fechar parque ou retroceder em atividades culturais que foram liberadas. Vai passar a valer essa redução de 12 horas para 10 horas em relação à abertura dos estabelecimentos, a ocupação de 60% para 40% e o horário de fechamento, em vez de 23h, será até 22h.

Ainda assim, essas restrições não foram anunciadas na campanha. Não faltou clareza para o eleitor?

Aqui na cidade de São Paulo não há necessidade. O governador olha os dados da região metropolitana e do Estado. Ele tomou a decisão em relação aos dados agregados. Eu respondo pela cidade, e continua a valer aquilo que eu dizia antes da eleição. Não há necessidade de ampliar qualquer proteção, como não há também de continuar o processo de flexibilização.

Mas a decisão do governador não passa a mensagem de que houve um raciocínio eleitoral?

Bom, aí é para o governador que você precisa fazer essa pergunta. A Prefeitura nem foi chamada ontem (segunda, 30) no Palácio (dos Bandeirantes). A gente não faz parte da lista das 60 e poucas cidades que estão em estado de atenção.

O sr. prometeu para Joice Hasselmann fazer uma ‘Lava Jato municipal’. Seria o caso de dar mais independência para a Controladoria-Geral do Município, mesmo que ela, eventualmente, investigue o vice-prefeito?

Não tem nada a ver com a criação de nenhuma estrutura na Prefeitura ou com alteração das estruturas que já temos, que já têm toda a independência para poder fazer investigação. Eu não controlo o que faz a CGM. Ela tem toda autonomia. Pensamos em um grupo fora da Prefeitura.

O sr. já marcou com o deputado Orlando Silva (PCdoB) uma reunião sobre o projeto dele de cassar o alvará das empresas reincidentes em caso de racismo? Como será feito na cidade, por decreto ou projeto de lei?

Ficamos de marcar após a eleição uma conversa aqui para ver de que forma enviar um projeto à Câmara Municipal para tratar do tema. Não posso cassar alvará por decreto. Vamos mandar para a Câmara discutir um projeto de lei.

Neste ano, a eleição de mulheres, negros e trans aumentou a diversidade nas Câmaras Municipais. O sr. vai ampliar o número de negros, mulheres e trans no governo?

Me comprometi com o aumento da quantidade de mulheres e de ter negros no secretariado. Essas duas questões vou cumprir. Nenhum preconceito a homem ou mulher trans. Não há decisão em relação ao tema.

Qual foi o legado da pandemia na rotina da administração?

O home office é uma das questões que vão mudar nosso dia a dia. Muitas pessoas que estão indo morar fora da cidade continuam a trabalhar em home office. Não há necessidade de reuniões presenciais. Adotamos um decreto que estabelece o home office como a regra na Prefeitura. Não houve queda de produtividade.

Como será a transição do sr. para o sr. mesmo?

No meu caso, os dados já são de conhecimento do prefeito eleito. Mas eu pedi ao Wilson Pedroso (coordenador da campanha) para me ajudar a pensar em um processo de reestruturação da Prefeitura. Vamos começar a pensar se faz sentido reagrupar secretarias, unir, fundir, separar. Estamos pensando na reorganização da Prefeitura. Depois a gente começa a pensar em nomes.

O sr. avalia reduzir o número de secretarias?

Temos hoje 23 secretarias, o que, para mim, é o teto. Disso não se passa. Nesta semana vamos começar a pensar em relação à reorganização.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.