Kate Evans, quadrinista e jornalista, autora de ‘Refugiados’

O que você aprendeu sobre os refugiados ao fazer essa HQ?

Refugiados são pessoas. Pessoas comuns, boas e más, fugindo de situações extraordinárias. Quando todos reconhecerem que imigrantes não são diferentes de outras pessoas, então as soluções serão possíveis. Minha HQ apenas conta a simples história do que fiz e de quem encontrei em dez dias em um acampamento não oficial. Não encontrei monstros, terroristas, selvagens, invasores, parasitas ou loucos. Encontrei pessoas.

Outros repórteres, como Joe Sacco, influenciam seu trabalho?

Eu gosto do trabalho de Joe Sacco, mas não o cito como uma influência direta, porque venho fazendo reportagens gráficas por 25 anos, e o li apenas alguns anos atrás. Nunca fui realmente fã de HQs quando jovem porque achava as imagens de mulheres muito estereotipadas. Eu preferia cartunistas políticos e fanzines feministas underground.

Como os refugiados reagiram às intervenções artísticas no acampamento?

Arte quebra fronteiras. Arte existe sem barreiras linguísticas. Arte é uma expressão fundamental de humanidade. Houve projetos artísticos no acampamento que tocavam nessa questão. Por exemplo, Majid Adin, um homem que foi preso no Irã por charges políticas, chegou a Calais e começou a desenhar pela primeira vez desde sua prisão e tortura. Ele conseguiu asilo no Reino Unido e ganhou uma competição de animação para a criar um vídeo da música Rocket Man, de Elton John. Essa é uma história de sucesso. Mas também temos que ser realistas sobre as reais necessidades das pessoas. Elas precisam de segurança, igualdade e liberdade de ir e vir. Levar um pacote de lápis coloridos para um campo de refugiados não soluciona esse problema.

Na sua opinião, qual é a solução ideal para a crise migratória?

Há 68,5 milhões de refugiados no mundo hoje, 44 mil pessoas forçadas a fugir de casa diariamente. O efeito de remover fronteiras nacionais foi matematicamente modelado, e resultaria em um aumento de PIB global entre 50% e 150%. Não faz sentido economicamente enclausurar pessoas onde elas não podem trabalhar produtivamente, em vez de deixá-las ir para um lugar seguro e começar uma nova vida. Eu sei que parece impossível. Muito de nossa identidade está enraizada na ideia de pertencimento a uma nação. Mas 200 anos atrás, parecia impossível dizer que mulheres podem ser iguais a homens, e negros iguais a brancos. À medida que crises motivadas pelas mudanças climáticas pioram, essas ondas de pessoas esparramadas pelo planeta vão ficar mais intensas. Em algum momento, teremos que fazer uma escolha. Somos membros da raça humana? Que nível de genocídio é aceitável? Quando começaremos a optar pela vida?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.