Traumas sexuais podem acontecer de diversas maneiras, e eles nem sempre estão atrelados ao uso da força física. A coerção sexual, por exemplo, acontece quando alguém te pressiona ou manipula para fazer sexo mesmo quando você não quer.

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Esse acontecimento pode ser extremamente estressante e confuso. Você pode saber que o que aconteceu não estava certo, mas não entender exatamente como ou por quê. Você pode até mesmo acreditar que não houve abuso, já que, no final, você disse “sim”. No entanto, é importante ter em mente que o consentimento verdadeiro é dado voluntariamente. Se você consentiu porque a outra pessoa te ameaçou ou pressionou, então você não consentiu de verdade. Saiba como identificar e se proteger com informações do “Healthline”.

O que é coerção

Coerção” é o ato de tentar ou controlar as escolhas de outra pessoa através de manipulação e ameaças. Portanto, a coerção sexual acontece quando alguém não aceita um “não” como resposta e continua “forçando a barra” para que a outra pessoa aceite participar da atividade sexual.

É importante lembrar que, apesar do termo “sexo” ser utilizado, a coerção sexual não se limita apenas à penetração, e sim a qualquer forma de intimidade sexual, como beijos, toques, lambidas e sexo oral. Se você disser “não”, qualquer tipo de tentativa de intimidade deve parar por aí.

Algumas vezes, a coerção pode acontecer de forma evidente, com frases como “se você não fizer sexo comigo, vou contar para todos que estamos tendo um caso” ou “vou procurar alguém na rua”. Em outras ocasiões, ela ocorre de forma mais sutil, por exemplo: “Por que você não toma uma taça de vinho e tira esse casaco para vermos o que acontece?”. 

Dentre as táticas comuns de coerção estão:

• Fazer você se sentir culpada;

• Fazer ameaças;

Chantagem emocional;

• Dar-lhe drogas ou álcool com o intuito de diminuir suas inibições.

Apesar de, geralmente, manter-se nas ameaças psicológicas e verbais, a coerção pode evoluir para agressões físicas e violência. A prática geralmente acontece em relacionamentos, mas também pode acontecer em outros contextos — como no trabalho, faculdade, entre conhecidos, amigos ou família, ou em qualquer outro lugar.

Coerção X Consentimento

Se você não quer fazer sexo, mas concorda por se sentir obrigada ou por medo de a outra pessoa ficar brava, você não está consentindo voluntariamente. 

Quando o álcool está envolvido

Muitas pessoas ainda podem consentir após beber um pouco, mas não é possível tomar decisões conscientes sob o efeito de drogas ou álcool em excesso. Lembre-se: desde que ninguém esteja incapacitado, ambos podem consentir. Se alguém insiste em te oferecer bebidas e drogas com o intuito de fazê-la consentir com o sexo, isso é coerção.

Em um relacionamento

Estar em um relacionamento não significa que você entregou seu consentimento incondicional. Você pode não estar com vontade de fazer sexo às vezes, e se você disser “não”, seu(ua) parceiro(a) deve respeitar isso. Qualquer tentativa de persuasão é considerada coerção.

É possível que você questione as atitudes de seu(ua) parceiro(a) e não saiba identificar o que realmente é coerção, por isso, lembre-se que a diferença está em alguns fatores-chave: a intenção dele(a), sua reação (se você já disse não) e como ele(a) reage à sua recusa. Se diz que não quer fazer sexo, mas depois de alguns minutos de carícias sem conotação sexual você eventualmente “entra no clima” e resolve transar, isso não é coerção — desde que a decisão tenha partido de você. 

Possíveis situações de coerção

Ameaças

Algumas pessoas não hesitam em dizer o que pretendem fazer caso você recuse sexo. Elas podem ameaçar machucar ou abusar de outras pessoas, ameaçar terminar com você ou te trair — no caso de um(a) parceiro(a) — ou até mesmo ameaçar sua carreira — no caso de um(a) colega de trabalho ou supervisor(a). 

Pressão social

Essas pessoas também podem fazer com que você sinta que dizer “não” significa que tem algo errado com você, com frases como “Nós já saímos três vezes, você não acha que é hora?”, “É só sexo, não é nada de mais” ou “Não seja ‘santinha’”. Entretanto, lembre-se que as decisões que dizem respeito ao seu corpo são exclusivamente suas e não há absolutamente nada de errado com isso. O que outras pessoas pensam não importa.

Manipulação emocional

Em um relacionamento, seu(ua) parceiro(a) pode tentar manipular suas emoções para tentar te fazer mudar de ideia. Talvez ele(a) diga que tudo bem você não querer fazer sexo, mas adote uma linguagem corporal agressiva, batendo portas e bufando alto. Algumas pessoas podem, ainda, se recusar a falar com você até você aceitar, ou tentar te conquistar através da empatia, com frases como “Minha semana foi muito difícil, mas eu me sentiria muito melhor se transássemos”. 

Insistência

Muitas vezes, a coerção pode ser simplesmente a insistência por sexo. Isso pode partir, inclusive, de alguém que você mal conhece. Essa pessoa pode te pedir constantemente por uma chance através de mensagens de texto ou aparecer pessoalmente em seu trabalho. 

Mas isso não significa que a insistência não possa acontecer em um relacionamento. Você pode estar atormentada por problemas do cotidiano e acabar deixando a vida sexual em segundo plano; e ao invés de te dar apoio, seu(ua) parceiro(a) se limita a perguntar: “Será que você vai estar com vontade de transar essa noite?”. 

Culpa

Fazê-la se sentir culpada é uma forma recorrente de coerção, principalmente se você tem sentimentos pela pessoa que está te coagindo — já que você não quer machucá-la. Essa pessoa pode fazer o uso de argumentos como “Você deve estar me traindo, já que não fazemos sexo há tanto tempo” ou “Talvez você não me ame”. 

Falta de afeto

Mesmo sem querer sexo, você ainda pode desejar intimidade através de carícias, beijos e conversas, mas a outra pessoa te nega tudo isso enquanto você não concorda com o relação sexual. Ele(a) pode levantar abruptamente, te empurrar, se fechar completamente ou agredir seu emocional com piadas ou comentários rudes.

Humilhação

A outra pessoa pode tentar atacar sua autoestima, agindo como se estivesse te fazendo um favor, já que “ninguém gostaria de fazer sexo com você”. 

Insistir que você vá até o final

Você sempre pode retirar seu consentimento, mesmo depois de já tê-lo dado. Se você diz algo como “Acho que isso não foi uma boa ideia e quero parar agora”, seu(ua) parceiro(a) deve respeitar e parar imediatamente. Qualquer outra reação é coerção, incluindo argumentos como “Agora já começamos, não dá para parar”.

Bajulação

É possível que alguém tente te manipular através de uma “pressão positiva”: presentes, elogios e afeição dados exclusivamente com o intuito de receber algo em troca. 

Te impedir de dizer ‘não’

A única forma de consentir é dizendo “sim”. Portanto, não dizer nada não é consentir. Em algumas situações, você pode ter medo de dizer que não quer, por isso, não dirá nada. Uma pessoa que te respeita perceberá, por sua linguagem corporal, que você está desconfortável.

Uma pessoa que inicia uma relação sexual sem antes conversar sobre limites ou perguntar o que te agrada provavelmente imagina que você concordará com tudo o que ela fizer. Ela pode, inclusive, te acordar no meio da noite para fazer sexo, em um momento em que estará cansada demais para protestar. 

Como reagir

Se você perceber que está sendo coagida, o primeiro passo é chamar a atenção da outra pessoa — desde que você se sinta segura. Seja assertiva, usando frases como “Eu disse que não quero transar, não adianta me pressionar”. Se a insistência continuar, pode ser uma boa ideia recorrer a um amigo ou membro da família confiável. Mesmo que você não se sinta confortável para dizer o que aconteceu, ter alguém para conversar pode te fazer sentir mais segura e menos sozinha. 

Dizer “não” para um supervisor, professor, colega de trabalho ou qualquer outra pessoa que tenha poder sobre seu futuro acadêmico e/ou profissional pode ser aterrorizante, mas é a coisa certa a se fazer. Após isso, dirija-se à diretoria, recursos humanos ou qualquer outra autoridade para realizar uma denúncia formal.

O que fazer

Assim como o estupro, a coerção sexual é considerada um tipo de assédio sexual — que é crime —, e você tem todo o direito de denunciar. Você pode realizar testes para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e conseguir contraceptivos de emergência pelo SUS, que também pode coletar material genético caso decida prestar queixas à polícia. Lembre-se que se responsabilizar por sua recuperação é uma forma de estar no controle e ter mais segurança.

Se você está vivenciando situações de coerção com alguém com quem deseja continuar em um relacionamento, converse com ele(a) sobre como essas atitudes fazem você se sentir, e deixe claro que precisa respeitar seus limites caso queira continuar juntos. 

Conversar com outras pessoas e desabafar também pode ser bom, bem como procurar ajuda psicológica. Um terapeuta pode te ajudar, com compaixão, a decidir seus próximos passos e criar um plano para abandonar seu relacionamento em segurança, além de dar suporte para toda a angústia emocional que você pode estar sentindo. 

Lembre-se: se você foi vítima ou está vivenciando qualquer tipo de violência, não hesite em denunciar através do telefone 180 — Central de Atendimento à Mulher.