O ministro de Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes, tentou ontem minimizar as críticas sobre a exoneração de Lubia Vinhas do cargo de coordenadora da Observação da Terra (OBT) do Inpe, negando qualquer relação com o momento de alta do desmatamento da Amazônia. O anúncio, divulgado na segunda-feira no Diário Oficial, ocorreu apenas três dias depois que foram divulgados os alertas de desmatamento referentes ao mês de junho (o maior para o mês dos últimos cinco anos), confirmando uma tendência de alta da devastação que já ocorre há mais de um ano. Pontes alegou que lhe faltou atenção ao momento.

“Essa transferência da Lubia para o BIG, esse setor novo de grande importância, aconteceu em um momento que chamou a atenção de todo mundo (…), menos eu que não tinha prestado atenção no que tinha acontecido, vamos dizer assim”, disse com um sorrisinho constrangido.

“Aconteceu num momento que tinha todos esses alertas, tal, tal. O pessoal achou que tinha a ver uma coisa com a outra. Não tem. Só para reforçar, ela não foi demitida, o time do Deter, Prodes continua o mesmo”, disse. O ministro afirmou ainda não “tem dúvida sobre esses números serem corretos e sobre a (necessidade) de transparência” das informações.

O desmatamento da Amazônia e a pressão que o governo vem sofrendo de investidores estrangeiros e locais estão com destaque no noticiário desde o fim de junho. Uma das justificativas do vice-presidente Hamilton Mourão, que coordena os esforços do chamado Conselho da Amazônia, foi alegar que “os nossos mecanismos de monitoramento são péssimos”. Pontes não se manifestou sobre isso.

O ministro, acompanhado de Darcton Damião, que está interinamente no cargo de diretor do Inpe desde a saída de Galvão, se esforçou para dizer que o trabalho vem sendo aprimorado. E disse que gostaria que o anúncio desta terça-feira fosse interpretado como uma mostra do quanto o Inpe tem feito para melhorar a qualidade de dados do desmatamento. “E vai melhorar ainda mais. É um fato positivo para mostrar para as pessoas”, afirmou.

Ele apresentou um projeto que está em vigor desde fevereiro, o Deter Intenso, mas que ainda não tinha sido divulgado; e um novo satélite, o Amazônia 1, que deve entrar em operação no ano que vem.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

De acordo com Damião, o Deter Intenso é um aprimoramento do Deter, sistema que fornece alertas rápidos de desmatamento para orientar a fiscalização em campo. Até meados do ano, o satélite com o qual o Inpe trabalhava revisitava uma mesma área em média a cada cinco dias – é o tempo que eles levam para olhar novamente para uma mesma região.

Com a entrada em operação de um novo satélite, o Cbers-4A, agora dois instrumentos circulam o planeta, fornecendo novas imagens a cada três dias em média, o que já permite um monitoramento contínuo da vegetação.

Mas havia uma demanda da fiscalização de que, além de uma frequência maior de de dados, eles também fossem mais precisa. A ideia, diz Damião, foi focar as regiões onde o satélite voltaria a olhar. Apesar de o monitoramento ter como objetivo compreender toda a Amazônia, há áreas com pouca atividade e áreas com desmatamento em grande quantidade.

“Como aumentar a frequência de monitoramento para toda a Amazônia seria impossível, pegamos as áreas de alta taxa de desmatamento. Delimitamos quatro áreas de máximo interesse com o Ibama e colocamos mais imagens”, diz.

O Deter Intenso traz imagens do Cbers-4A com um nível de resolução de até 2 metros e combina essas informações com dados de radar, capazes de “ver” através das nuvens, uma limitação dos dados ópticos dos satélites.

Segundo ele, a capacidade agora é de revisitar os “hotspots” de desmatamento uma vez por dia, liberando relatórios diários das áreas mais críticas.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias