Nagorno-Karabakh: frágil cessar-fogo após bombardeios noturnos

Nagorno-Karabakh: frágil cessar-fogo após bombardeios noturnos

As forças separatistas armênias de Nagorno-Karabakh e o Exército do Azerbaijão se acusaram, neste domingo (11), de bombardeios noturnos em zonas civis, causando vítimas, testemunho de uma trégua humanitária difícil de aplicar.

O presidente da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, Araïk Haroutiounian, considerou, porém, que a situação estava “mais calma”, observando a ausência de bombardeios esta manhã, mas notando “algumas trocas de tiros e de morteiros na linha de frente”.

O Azerbaijão, por sua vez, anunciou que nove civis foram mortos em ataques noturnos na segunda cidade do país, Gandja, a cerca de 60 quilômetros do front, e alvejada várias vezes durante a semana.

O gabinete do procurador-geral disse que um prédio de apartamentos foi atingido, denunciando um “ataque deliberado à população civil”.

No local, equipes de resgate vasculhavam pela manhã os escombros de um prédio, constataram jornalistas da AFP, que viram dois corpos sendo retirados.

No total, nove apartamentos foram destruídos, segundo testemunhas, por um ataque às 2h00 (19h00 de sábado no horário de Brasília).

– Papa lamenta –

Neste contexto, o papa Francisco lamentou “uma trégua frágil demais”.

“Aprecio que a Armênia e o Azerbaijão tenham concordado em um cessar-fogo por motivos humanitários, com o objetivo de chegar a um acordo de paz substancial, embora a trégua seja muito frágil”, disse ao final da oração do Angelus.

“Encorajo-vos a retomar [a trégua] e expresso a minha participação na dor pela perda de vidas humanas, pelo sofrimento sofrido e pela destruição de casas e locais de culto”, acrescentou o pontífice.

“Uma pedra caiu no meu rosto, abri os olhos e outra pedra caiu. Não conseguia ver nada, tudo era uma nuvem de poeira”, contou uma moradora de Gandja, Akifa Baïramova, de 64 anos.

Hikmet Hajiyev, conselheiro do presidente do Azerbaijão Ilham Aliev, denunciou “um ato de genocídio” e advertiu que “se isso continuar, seremos forçados a tomar medidas recíprocas”.

O ministério da Defesa dos separatistas de Nagorno-Karabakh negou ter bombardeado Gandja: “É uma mentira absoluta”.

O presidente dos separatistas, Araïk Harutiunian, garantiu que suas tropas respeitam o “acordo de cessar-fogo” humanitário negociado em Moscou e que entrou em vigor no sábado às 12h00 (5h00 de Brasília).

Constatando uma situação mais tranquila neste domingo, ele, no entanto, considerou incerto o respeito da trégua, que também prevê a troca de corpos e prisioneiros.

“Não sabemos como o dia vai se desenrolar”, disse, enquanto sua capital, Stepanakert, foi alvo de pelo menos três ondas de bombardeios durante a noite, de acordo com jornalistas da AFP.

“Enquanto o tiroteio continuar, não haverá trocas”, acrescentou.

Já no sábado, os beligerantes se acusaram de violar o cessar-fogo.

A trégua foi negociada pelos ministros das Relações Exteriores da Armênia e do Azerbaijão, sob mediação da Rússia.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou estar à disposição para organizar o intercâmbio de corpos e prisioneiros previsto no acordo.

Nagorno-Karabakh, um território povoado principalmente por armênios, se separou do Azerbaijão depois de uma guerra que deixou 30.000 mortos na década de 1990. Desde então, Baku acusa Yerevan de ocupar seu território, e os confrontos são recorrentes.

Os combates entre as tropas separatistas, apoiadas pela Armênia, e o Azerbaijão desde 27 de setembro são os mais sérios desde o cessar-fogo de 1994.

– Centenas de mortos –

Quase 500 mortes foram registradas, incluindo cerca de sessenta civis, um número que pode ser muito superior, pois o Azerbaijão não divulga as baixas entre seus militares e cada campo afirma ter matado milhares de soldados adversários.

A realidade no terreno permanece obscura, cada campo negando sistematicamente os sucessos anunciados pelo outro.

A trégua negociada em Moscou foi alcançada após vários apelos da comunidade internacional, em particular do mediador histórico do conflito, o Grupo de Minsk, co-presidido pela Rússia, França e Estados Unidos.

O Azerbaijão, apoiado pela Turquia, advertiu que suas operações militares só cessarão definitivamente com uma retirada da Armênia de Nagorno-Karabakh.

O medo é ver esse conflito se internacionalizar, Ancara encorajando Baku à ofensiva e Moscou se contendo por um tratado militar com Yerevan.

A Turquia também é acusada de enviar combatentes pró-turcos da Síria para lutar ao lado dos azerbaijanos, o que Baku nega.

O presidente do Azerbaijão considerou, em entrevista publicada na Rússia neste domingo, que Ancara “deve desempenhar um papel cada vez mais importante na região e na resolução do conflito”.