Nagasaki lembra os 80 anos do ataque atômico contra a cidade

Localidade japonesa foi atingida por bomba nuclear três dias após Hiroshima; prefeito pediu fim dos conflitos armados e sino restaurado toca pela primeira vez após bombardeio, durante minuto de silêncio pelas vítimas

Nagasaki
Pessoas estão em frente à estátua da Paz após a cerimônia anual em memória das vítimas, no Parque da Paz, em Nagasaki, em 9 de agosto de 2025 Foto: Philip FONG / AFP

Nagasaki observou um minuto de silêncio neste sábado (09/08) em memória do momento em que, há 80 anos, a bomba atômica caiu sobre a cidade japonesa, enquanto o sino de uma igreja restaurada tocava pela primeira vez desde o ataque.

Em 9 de agosto de 1945, às 11h02, horário local, três dias após Hiroshima, Nagasaki sofreu o horror da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos. Cerca de 74 mil pessoas perderam a vida nesta cidade portuária no sudoeste do Japão, somando-se às 140 mil vítimas de Hiroshima.

“Oitenta anos se passaram, e quem imaginaria que o mundo se tornaria assim? Parem os conflitos armados imediatamente!”, instou o prefeito da cidade, Shiro Suzuki, durante a cerimônia diante de representantes de cerca de 100 países.

“Confrontos estão se intensificando em vários lugares devido a um ciclo vicioso de enfrentamento e divisão. Uma crise que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade, como uma guerra nuclear, paira sobre todos nós que vivemos neste planeta”, acrescentou ele sob chuva torrencial, que parou durante o minuto de silêncio.

Cerca de 2.600 pessoas, compareceram a um evento memorial no Parque da Paz de Nagasaki, onde Shiro Suzuki e o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, discursaram, entre outros convidados.

“Terror invisível”

Às 11h02, horário exato em que a bomba de plutônio explodiu sobre Nagasaki, os participantes observaram um momento de silêncio enquanto um sino tocava.

“Mesmo após o fim da guerra, a bomba atômica trouxe um terror invisível”, disse o sobrevivente Hiroshi Nishioka, de 93 anos, em seu discurso no memorial, observando que muitos dos que sobreviveram sem ferimentos graves começaram depois a sangrar das gengivas e perdes os cabelos e a morrer.

A explosão “parece algo muito antigo, mas para as pessoas que a vivenciaram, deve ser como se tivesse sido ontem. Devemos lembrar que estes são eventos reais”, disse Atsuko Higuchi, moradora de Nagasaki de 50 anos, presente perto do Parque da Paz.

Sino volta a soar após 80 anos

Como símbolo desta comemoração, o sino de uma catedral destruída pela explosão da bomba e restaurado por cristãos americanos tocou pela primeira vez em 80 anos.

A igreja de tijolos vermelhos dedicada à Imaculada Conceição, ladeada por duas torres de sinos, a Catedral de Urakami fica no topo de uma colina na cidade. Foi reconstruída em 1959, após a ,destruição do edifício original a algumas centenas de metros de distância.

Apenas um de seus dois sinos foi encontrado entre os escombros. Com fundos coletados de fiéis americanos, um novo sino foi construído e restaurado na torre, e tocou no sábado no exato momento em que a bomba foi lançada.

Para seu principal sacerdote, Kenichi Yamamura, esta restauração “mostra a grandeza dos seres humanos, a prova de que aqueles que pertencem ao lado que feriu o outro podem um dia buscar redenção”.

“Não se trata de esquecer as feridas do passado, mas de reconhecê-las e agir para repará-las, reconstruí-las e, assim, trabalhar juntos pela paz”, acrescentou Yamamura.

Apesar da dor causada pelos ferimentos, discriminação e doenças causadas pela radiação, os sobreviventes se comprometeram publicamente com o objetivo comum de abolir as armas nucleares. Mas eles se preocupam com o mundo caminhando na direção oposta.

Transmitindo lições

Sobreviventes idosos e seus apoiadores em Nagasaki agora depositam suas esperanças de alcançar a abolição das armas nucleares nas mãos dos mais jovens, dizendo-lhes que o ataque não é uma história distante, mas uma questão que permanece relevante para o seu futuro.

“Há apenas duas coisas pelas quais anseio: a abolição das armas nucleares e a proibição da guerra”, disse Fumi Takeshita, um sobrevivente de 83 anos. “Busco um mundo onde as armas nucleares nunca sejam usadas e que todos possam viver em paz.”

Na esperança de transmitir as lições da história às gerações atuais e futuras, Takeshita visita escolas para compartilhar sua experiência com as crianças.

“Quando vocês crescerem e se lembrarem do que aprenderam hoje, por favor, pensem no que cada um de vocês pode fazer para evitar a guerra”, disse Takeshita aos alunos durante uma visita à escola no início desta semana.

Teruko Yokoyama, de 83 anos, membro de uma organização de Nagasaki que apoia sobreviventes, disse que pensa na crescente ausência daqueles com quem trabalhou, e isso alimenta seu desejo de documentar a vida de outros que ainda estão vivos.

O número de sobreviventes caiu para 99.130, cerca de um quarto do número original, com idade média superior a 86 anos. Os sobreviventes se preocupam com o desaparecimento das memórias, já que os mais jovens dos sobreviventes eram jovens demais para se lembrar do ataque.