29/12/2023 - 12:13
Atleta mais jovem nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, a nadadora ugandesa Husnah Kukundakwe deseja manter sua evolução no ano que vem em Paris, mas, principalmente, continuar “inspirando” pessoas com deficiência vítimas da estigmatização em seu país.
Nascida sem o antebraço direito e com uma malformação na mão esquerda, Kukundakwe desafia todos os preconceitos desde a infância.
Ela tinha apenas três anos quando entrou pela primeira vez em uma piscina. “Ia lá e brincava. Entrava na água e me sentia bem. Adoro estar na água”, declara a adolescente de 16 anos.
Mas seu entusiasmo não era compartilhado por sua mãe. “Ela se preocupava, porque achava que eu não poderia nadar”, conta.
“Ela acabou se dando conta de que eu continuaria entrando na água e acabou cedendo”, explica durante uma pausa em um treinamento nos arredores de Kampala, capital ugandesa.
Aos nove anos, Kukundakwe ganhou sua primeira prova, contra crianças sem deficiência. “Isso abriu os olhos da minha mãe sobre o fato de que eu poderia progredir”, sorri a jovem, que nunca pôde imaginar que um dia participaria de competições internacionais, apesar das muitas horas que passa semanalmente na piscina acompanhada de sua mãe, agora sua agente.
“Nem sabia que existia a natação adaptada”, admite.
Uma viagem ao Quênia quando tinha 11 anos foi uma revelação para a nadadora, que até então só havia competido contra adversários sem deficiência: em Nairóbi, descobriu que existia outros atletas paralímpicos como ela.
“Comecei a me sentir bem comigo mesma. Pessoas com deficiências mais graves que eu (…) se sentiam à vontade e com confiança, fazendo o que mais gostavam de fazer, que era nadar. Por que eu não?”.
Kukundakwe obteve um certificado que a autorizava a competir em nível internacional e depois participou da World Series de Natação Adaptada em 2019, em Singapura, antes de obter a classificação para os Jogos de Tóquio.
Mas a decisão das autoridades ugandesas de fechar piscinas e ginásios durante a pandemia da covid-19 alterou sua preparação.
Para manter a forma, Kukundakwe começou a praticar “jogging” com seu pai, engenheiro, e com seus irmãos. E seguiu os treinamentos… por videoconferência.
Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, de agosto a setembro de 2021, ela participou dos 100 metros peito SB8, sem obter a classificação para a final, mas melhorou seu recorde pessoal (1:34.35).
Foi uma experiência “incrível” e “angustiante, porque estava competindo com lendas paralímpicas e que eram minhas inspirações”.
Para ela, foi especialmente marcante o encontro com a irlandesa Ellen Keane, ouro nos 100m peito SB8. “Rezo todos os dias para ser parecida com ela”, afirma Kukundakwe.
Sua ambição vai além dos títulos e das medalhas. “Meu principal objetivo é participar das competições internacionais e inspirar as pessoas com deficiência, em especial as crianças, para que realizem seus sonhos”, conta.
Uma tarefa que parece hercúlea em Uganda, país da região dos Grandes Lagos da África e um dos mais pobres do planeta, onde frequentemente as crianças são consideradas um peso e abandonadas por suas famílias.
Segundo a Comissão Ugandesa pela Igualdade de Oportunidades, as pessoas com deficiência seguem enfrentando a estigmatização, a discriminação e sem acesso a serviços públicos como saúde e educação.
Jovem embaixadora do Comitê Paralímpico Internacional, Husnah Kukundakwe começa a ver uma evolução na mentalidade de seus compatriotas.
“Quando volto de uma competição, as pessoas vêm até mim para dizer ‘Olá, Husnah! Bem-vinda!’. Antes, me encaravam e apontavam para mim”, declara.
“Minha carreira mudou esses olhares. As pessoas já não me veem como uma menina com deficiência, mas como alguém que viaja pelo mundo como nadadora profissional”, acrescenta.
Apesar de já pensar nos Jogos de Los Angeles 2028, sua ambição não se limita à piscina. “Embora eu adore nadar, não posso fazer isso eternamente”, afirma Kukundakwe, que sonha em se tornar pediatra.
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