Sem os dois braços e dono de um físico bastante franzino, o nadador Mohammad Abas Karimi fez história na Piscina Olímpica Francisco Marquez, na Cidade do México, ao se tornar o primeiro refugiado a conquistar uma medalha em um Mundial Paralímpico. O afegão de apenas 20 anos de idade faturou a medalha de prata nos 50 metros borboleta na classe 5 da competição, em prova realizada no fim de semana, e contou sobre o seu feito em entrevista concedida no final da noite desta segunda-feira após ter participado de uma outra prova do grande evento.

“Estou muito feliz por conquistar essa medalha logo no meu primeiro Mundial. Está sendo uma grande experiência competir aqui. Hoje fiquei em sétimo nos 50m costas S5 (44s80), uma prova muito difícil, mas estou satisfeito. Nasci em Cabul e me mudei de lá em 2016. Moro no Oregon, nos Estados Unidos”, afirmou Karimi, para depois explicar como passou a se interessar pela natação paralímpica.

“Meu irmão era dono de uma piscina comercial em Cabul (capital do Afeganistão) e eu comecei a nadar nela muito novo. Sempre me senti muito bem na água e tomei gosto pela natação. A partir daí comecei a treinar com um técnico afegão e ele me ensinou as técnicas de natação”, reforçou.

Competindo sob a bandeira da equipe de refugiados no Mundial Paralímpico que vem sendo realizado em solo mexicano, Karimi admite que não se sentia seguro no Afeganistão, país que vem sendo constantemente afetado por guerras. Por isso, optou por deixar a sua terra natal em 2016, quando foi morar na casa de um amigo nos Estados Unidos, para onde ele revelou que gostaria que a sua família também se mudasse.

“Espero muito que isso aconteça no futuro. Meu irmão mais novo está providenciando o status de refugiado, então espero recebe-lo em breve. Para os meus pais se mudarem seria um pouco mais complicado, então espero que isso aconteça mais para o futuro”, projetou.

Karimi fez o time de refugiados assumir a “honrosa” 25ª posição no quadro de medalhas do Mundial, ficando empatado com Finlândia, Coreia do Sul e África do Sul, países que também contabilizam apenas uma medalha de prata após três dias de disputas na competição no México.

Ao se garantir no pódio, Karimi colocou a bandeira dos refugiados à frente das de Israel, Bélgica, Chile, Lituânia e Eslováquia, países que até agora só obtiveram medalhas de bronze e fecham a classificação geral de nações que contabilizaram apenas um pódio no Mundial.

O jovem de 20 anos espera que essa sua prata histórica possa ser o início de um caminho para que a sua carreira decole na natação paralímpica. “Quero crescer na natação, acho que essa medalha pode abrir muitas portas. Sei que tenho um longo caminho, mas estou disposto a me esforçar ao máximo para chegar onde quero. Tenho só 20 anos e minha meta é estar na Paralimpíada de Tóquio-2020, faço dez horas de treino semanais”, revelou o afegão, para na sequência falar com tristeza da situação do seu país.

“Espero muito que o Afeganistão se torne um país seguro um dia. Enquanto isso, torço para que os meus compatriotas se livrem da guerra. Não há segurança nenhuma para se viver lá”, reconheceu Karimi, que começou a nadar na adolescência e se tornou paratleta da modalidade após passar a ser treinado por um dos principais especialistas em natação do seu país.

E agora ele festejou o fato de o seu esforço ser recompensado com um lugar no pódio do Mundial no México, onde na última segunda-feira também foi o sétimo colocado na final dos 50 metros costas na classe S5. “Essa medalha me deixou muito feliz, mesmo porque é o meu primeiro Mundial. Estar aqui já é uma vitória e eu vou guardar para sempre esse momento”, ressaltou Karimi.