As nações baleeiras bloquearam nesta terça-feira (11) um esforço de quase duas décadas para criar um refúgio no Atlântico Sul para esses cetáceos ameaçados de extinção, aprofundando as divisões em uma já conturbada reunião da Comissão Baleeira Internacional (IWC) em Florianópolis.

O Santuário de Baleias no Atlântico Sul foi apoiado por 39 países, com 25 votando contra e vários países não votando, e por isso não conseguiram obter a maioria necessária de dois terços do corpo de 89 membros.

O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Edson Duarte, cujo país propôs a criação do santuário na reunião da IWC em 2001, disse que está desapontado mas que continuará pedindo apoio mundial no futuro.

“Como ministro do Meio Ambiente em um país com 20% da biodiversidade mundial em suas florestas, nos sentimos altamente responsáveis ​​pela administração de nossa riqueza, para o mundo inteiro, e isso também vale para os cetáceos”, disse Duarte a delegados.

As ONGs que participaram da reunião expressaram decepção com o resultado.

O projeto, copatrocinado por Argentina, Gabão, África do Sul e Uruguai, foi discutido pela primeira vez em 1998 e votado desde a reunião de 2001 da IWC.

O Japão votou contra o projeto, apoiado pela Islândia, Noruega e Rússia. A delegação japonesa pressionou por uma mudança de regras nas reuniões bienais que permitiriam que as decisões fossem tomadas por maioria simples, em vez da atual maioria de três quartos.

Isso tornaria mais fácil para o Japão aprovar sua proposta de acabar com uma moratória de 32 anos sobre a caça comercial de baleias e reintroduzir a “caça de baleias sustentável”.

Também permitiria a criação do Santuário de Baleias no Atlântico Sul, apontaram os funcionários do Ministério das Relações Exteriores do Japão no encontro do Brasil.

A comissária neozelandesa Amy Laurenson, falando em favor do santuário, disse no encontro que se tratava de proteger as baleias, “não de determinar o resultado para outras áreas do mundo”.

Grettel Delgadillo, da Humane Society International (HSI), afirmou que a votação foi uma “decepção amarga” e “um sinal genuíno de má-fé e intrigas contínuas pelo bloco do Japão, e é um mau presságio para os votos cruciais que virão no final desta semana”.

– Impasse de décadas –

Seis nações do órgão intergovernamental de 89 membros não enviaram delegações para a reunião, e sete países, em sua maioria africanos, que enviaram suas delegações ainda não pagaram suas taxas à organização e, consequentemente, não foram autorizados a votar a medida.

Observadores disseram que para alguns desses países menores, não votar em uma questão altamente sensível é um gesto diplomático, e é improvável que eles queiram ser vistos em qualquer um dos campos.

No entanto, alguns delegados anticaça disseram que isso mostrava a falta de preparação de países proponentes para deixarem potenciais votos fugirem devido a uma questão processual, acrescentando que o Japão era mais eficiente na preparação do terreno político.

O resultado perpetua um impasse de décadas entre as nações pró e anticaça da IWC.

Nicolas Entrup, da ONG suíça OceanCare, indicou um plano de ação para proteger as baleias no Atlântico Sul, adotado por unanimidade pelas partes da Convenção das Nações Unidas sobre Espécies Migratórias (CMS) no ano passado.

Protestando contra “o bloqueio destrutivo de alguns países”, declarou que os Estados da CMS devem seguir em frente sem a aprovação da IWC para formar o santuário.

“Um santuário nesta região forneceria forte proteção a uma ampla variedade de espécies de baleias e golfinhos”, disse Patrick Ramage, do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal.

“A pesquisa não-letal de baleias nesta área já forneceu dados valiosos sobre as baleias e um santuário teria aprofundado isso, contribuindo com informações muito mais úteis e precisas do que jamais foi obtido com a chamada caça científica”.

“As nações da região querem criar – e têm todo o direito de criar – um refúgio seguro para as baleias sob ameaças contínuas de caça comercial, morte por emaranhamento em equipamentos de pesca, poluição marinha e ferimentos causados ​​por navios”, disse Delgadillo, da HSI.