ANCARA, 27 NOV (ANSA) – Em sua primeira viagem internacional, o papa Leão XIV discursou para autoridades turcas na manhã desta quinta-feira (27) e criticou a crescente polarização das sociedades contemporâneas, alertando para os riscos sociais, políticos e tecnológicos que ameaçam a coesão humana e a paz mundial.
Durante seu pronunciamento em Ancara, o líder da Igreja Católica destacou que uma sociedade “só está verdadeiramente viva quando é plural”, enfatizando que “são as pontes entre suas diferentes almas que a tornam uma sociedade civil”.
Ele lamentou que comunidades em todo o mundo estejam “cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremistas, que as destroem”.
O Papa também comentou sobre o papel histórico e geopolítico da Turquia, ressaltando que “ter um grande passado é uma responsabilidade”, principalmente em um mundo “desestabilizado por ambições e decisões que atropelam a justiça e a paz”.
“Vocês têm um lugar importante no presente e no futuro do Mediterrâneo e do mundo inteiro, antes de tudo por valorizarem a sua diversidade interna”, afirmou.
Segundo ele, “antes de conectar a Ásia e a Europa, o Oriente e o Ocidente”, a ponte sobre o Estreito de Dardanelos “une a Turquia a si mesma, reconcilia as suas partes e, assim, a torna, por assim dizer, internamente, uma encruzilhada de sensibilidades, cuja padronização a empobreceria.” Outro ponto central dos discursos foi o impacto das novas tecnologias. Robert Prevost alertou que avanços tecnológicos ? inclusive a inteligência artificial ? podem, se mal utilizados, “acentuar as injustiças” em vez de reduzi-las.
O Santo Padre reforçou que a dignidade e a liberdade de todas as pessoas devem ser colocadas no centro das políticas nacionais e internacionais.
“A justiça e a misericórdia desafiam a lei da força e ousam exigir que a compaixão e a solidariedade sejam consideradas critérios para o desenvolvimento”, afirmou, pedindo que países reformulem suas estratégias para promover o bem comum.
Além disso, Leão XIV disse que, em uma sociedade como a da Turquia, “onde a religião desempenha um papel visível, é essencial honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus: homens e mulheres, compatriotas e estrangeiros, pobres e ricos”.
“Trabalhemos, portanto, juntos para mudar a trajetória do desenvolvimento e reparar os danos já infligidos à unidade da família humana”, observou o Papa em seu discurso às autoridades.
Em relação a temas sociais, o Pontífice condenou o que chamou de “economias consumistas em que a solidão se torna um negócio”, apelando para a valorização da família, dos vínculos afetivos e, especialmente, do protagonismo das mulheres na sociedade.
Ele também destacou que o estudo, o trabalho e a participação ativa das mulheres na vida pública representam um enriquecimento fundamental para o país.
“Não é a partir de uma cultura individualista, nem do desprezo pelo casamento e pela fertilidade, que as pessoas podem obter maiores oportunidades de vida e felicidade. A essa ilusão das economias consumistas, em que a solidão se torna um negócio, é preciso responder”, salientou.
Por fim, Leão XIV defendeu que a Turquia “possa ser um fator de estabilidade e aproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura”.
Ele afirmou que o mundo vive “um período de intenso conflito”, alimentado por estratégias de poder econômico e militar, e reiterou a necessidade urgente de líderes dispostos ao diálogo.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos de personalidades que fomentem o diálogo e o pratiquem com firme vontade e tenacidade paciente”, declarou, advertindo contra a escalada do que já foi chamado pelo falecido papa Francisco de “terceira guerra mundial travada aos poucos”.
O Papa alertou que “não devemos ceder a essa tendência sob nenhuma circunstância” e garantiu que a Santa Sé está disposta a cooperar com a Turquia “na construção de um mundo melhor”, reforçando a importância do país como ponte entre diferentes regiões e sensibilidades. (ANSA).