O cerco se fecha em torno do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, cuja relação financeira e a proximidade de milicianos ainda precisa ser esclarecida. A Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra do sigilo de Flávio e Queiroz por causa de movimentações bancárias suspeitas identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a partir de uma investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ). A autorização foi dada no dia 24 de abril, mas só agora caiu o segredo de justiça. O que se pretende saber é porque Queiroz movimentou atipicamente R$ 1,2 milhão, renda considerada incompatível com seu cargo no período em que trabalhava no gabinete de Flávio, então deputado estadual. Para sustentar o pedido de abertura das contas do filho do presidente, o MP se amparou, também, em indícios de lavagem de dinheiro na compra de 19 imóveis. Flávio comprava salas e apartamentos por preços abaixo do mercado e vendia, poucos meses depois, por um valor três a quatro vezes maior. Como revela o MP, para comprar os 19 imóveis entre 2010 e 2017, ele investiu R$ 9,4 milhões e lucrou R$ 3,089 milhões, o que pode indicar uma simulação “de ganhos de capital fictícios”.

Além de Flávio e Queiroz, a Justiça determinou a quebra do sigilo da mulher de Flávio, Fernanda Bolsonaro, da empresa de ambos, Bolsotini Chocolates e Café Ltda, das duas filhas de Queiroz, Natália e Evelyn, e da mulher do ex-assessor, Márcia. Ao todo foram feitos 95 pedidos de quebra sigilo, dos quais 55 se referem a funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flavio na Assembléia Legislativa, onde o MP suspeita que funcionava uma “organização criminosa”. Estão incluídas na lista, Danielle Nóbrega e Raimunda Magalhães, irmã e mãe do ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos chefes de uma das principais milícias do Rio, o Escritório do Crime, assim como Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, sobrinho do presidente que trabalhou no gabinete de Flávio de 2006 a 2012. Para o MP, as investigações, a partir de agora, com os novos dados, poderão ter “um efeito avassalador”. Em fevereiro, ISTOÉ mostrou com exclusividade que uma funcionária do gabinete de Flávio, Valdenice de Oliveira Meliga, irmã de dois milicianos presos, Alan e Alex Rodrigues Oliveira, ficou responsável pelas contas da campanha de Flávio para o Senado. Ela assinou dois cheques de despesas de campanha, de R$ 3,5 mil e de R$ 5 mil, em nome do chefe, de quem tinha procuração.

Efeito avassalador

As investigações respingam no presidente Jair Bolsonaro, que tem uma relação de amizade com Queiroz. Outras nove pessoas que trabalharam no gabinete de Flávio e tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrado foram funcionárias do presidente. Do total da movimentação financeira de Queiroz identificada pelo MP, R$ 24 mil foram destinados para a conta da primeira dama Michelle Bolsonaro. O presidente alegou que, na verdade, emprestou R$ 40 mil para o ex-assessor e recebeu o pagamento em dez parcelas de R$ 4 mil na conta da mulher. As investigações sobre Queiroz foram abertas em dezembro de 2018 pelo MP-RJ, a partir de um relatório enviado pelo Coaf. Queiroz, que escapou de três convocações para depor, está desaparecido. Diante da exposição das suas contas, o MP considera a possibilidade de pedir sua prisão preventiva

lávio vem tentando usar a imunidade parlamentar para se proteger, mas o STF garantiu a continuidade da investigação. Sabe-se, por exemplo, que seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral quase quintuplicou entre 2006 e 2018, período em que exerceu três mandatos como deputado federal. Em 2016 seus bens equivaliam a R$ 385 mil e, no ano passado, atingiram R$ 1,74 milhão. Em nota, o filho do presidente disse que seu sigilo bancário havia sido quebrado ilegalmente pelo MP/RJ sem autorização judicial. “Somente agora, em maio de 2019, quase um ano e meio depois – tentam uma manobra para esquentar informações ilícitas, que já possuem há vários meses. A verdade prevalecerá, pois nada fiz de errado e não conseguirão me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro”, disse Flávio. Bolsonaro afirmou que o filho está sofrendo uma perseguição maldosa. “Agora, estão fazendo esculacho em cima do meu filho. Querem me atingir? Não vão me pegar”, completou. Veremos. A ofensiva do MP deve expor novos aspectos desse rolo

 

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