14/11/2020 - 12:00
Diante de um cenário indefinido, com três candidatos empatados tecnicamente no segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, postulantes à Prefeitura de São Paulo ajustaram suas estratégias para tentar alcançar o voto útil. Alguns deles já falam abertamente em contar com eleitores dos adversários para chegar ao segundo turno. Faltando um dia para a votação, candidatos miram também os indecisos. Segundo o Ibope, quando o entrevistador não fala quem são os concorrentes, 38% dos eleitores respondem que não sabem em quem votar.
Citado por 10% dos eleitores no último levantamento Ibope/TV Globo/Estadão, Márcio França (PSB) é quem tem feito os avanços mais explícitos. No seu perfil verificado de uma rede social postou uma foto com a frase “voto útil no único que já venceu o PSDB em São Paulo”. Com a tese de que pode bater, no segundo turno, o prefeito Bruno Covas (PSDB), que lidera o levantamento com 32%, o candidato do PSB mira votos à esquerda e à direita. Anteontem, durante debate organizado pela TV Cultura, França disse que aceitaria o apoio de todos os outros concorrentes.
“Acho que essa história do voto útil vai pegar cada vez mais”, afirmou o deputado estadual Caio França (PSB), filho do ex-governador, que também publicou a mensagem sobre voto útil em França nas redes sociais.
Numericamente à frente de França, com 13% no Ibope, Guilherme Boulos (PSOL) ajustou o discurso em busca do voto tanto do PT quanto de França.
Sempre que possível, Boulos tem emulado o discurso de Lula repetindo que “a esperança vai vencer o ódio”. Na campanha de 2002, Lula disse que “a esperança vai vencer o medo”. A busca pelo voto útil petista causou atritos com o partido. Boulos chegou a falar com os presidentes nacional e estadual do PT, Gleisi Hoffmann e Luiz Marinho, para que Jilmar Tatto desistisse da candidatura e o apoiasse. Gleisi, com o aval de Lula, pressionou Tatto, que resistiu. Anteontem de manhã Boulos teve que ligar para Tatto e aparar as arestas. À noite o candidato do PT chamou o adversário do PSOL de “irmão mais novo” e disse que “com certeza” estarão “juntos no segundo turno”.
Em outra frente, o candidato tenta associar França ao PSDB por ter sido vice do ex-governador tucano Geraldo Alckmin e ter apoiado João Doria para a prefeitura quatro anos atrás. Indagado pelo Estadão sobre voto útil na reta final, ontem, Boulos virou as baterias contra França. “O PSDB tem dois candidatos nessa eleição. O candidato do Doria, que é o Bruno Covas, e o candidato do Alckmin, que é o Márcio França”, disse o candidato.
Ele não deixou, porém, de fazer um aceno aos partidos que apoiam a candidatura de França. “PSB e PDT são partidos que estão na oposição ao governo Bolsonaro e eu respeito”, disse. Ainda ontem, a direção do PSOL vai iniciar conversas com dirigentes dos demais partidos de esquerda com vistas ao segundo turno. Na capital paulista há esperança de uma frente com PT, PC do B, Rede e PDT. Carlos Lupi e Ciro Gomes serão procurados. A possibilidade de apoio do PSB é considerada remota.
Já Celso Russomanno (Republicanos), em trajetória de queda e com 12% das intenções de voto, tem mirado Boulos nos debates. Em duas oportunidades nesta semana, Russomanno atacou Boulos criticando sua atuação em movimentos de moradia e divulgando uma informação que foi considerada “inverídica” pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A campanha mira eleitores da periferia, onde, segundo o Ibope, está parte dos indecisos – público também cobiçado por Boulos. A maior parte dos indecisos têm Ensino Fundamental e ganha até dois salários mínimos.
A estratégia do voto útil poderia beneficiar, ainda, o próprio Covas. Embora não haja uma articulação oficial, postagens nas redes sociais incentivavam eleitores que não querem candidatos da esquerda no segundo turno a escolherem Covas.
Críticas
Outros candidatos criticam a tática do voto útil. “Isso pode fazer o jogo do Covas e do PSDB. Tem gente de inocente útil nesse jogo”, disse Orlando Silva (PCdoB). Andrea Matarazzo (PSD) é outro que reclama. “O voto útil é do contra, como na última eleição nacional. O voto útil ajuda o líder”, afirmou. O PT se agarra à fama de partido de chegada e questionamentos quanto à credibilidade dos institutos de pesquisa para evitar que Tatto seja cristianizado pelo eleitorado petista. O vazamento da informação de que Gleisi com aval de Lula agiu para que o candidato desistisse da candidatura foi um golpe duro na autoestima dos petistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.