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O cientista escocês Ian Wilmut está na história. Em 1997, ele posou ao lado da ovelha Dolly, no Instituto Roslin, em Edimburgo, e informou ao mundo o nascimento do primeiro clone de um animal. Dolly virou conceitos de ponta cabeça e abriu um caminho para a cura de doenças. A partir do conhecimento gerado, chegou-se a células capazes de se transformarem em qualquer tecido do corpo, representando a esperança no tratamento de enfermidades como a diabetes e o Alzheimer. Na semana passada, Wilmut emocionou a ciência mais uma vez. Aos 73 anos, ele anunciou que tem a Doença de Parkinson e que irá participar como voluntário na pesquisa conduzida no mesmo instituto e que, a exemplo de outras em andamento, teve como ponto de partida as informações levantadas a partir de Dolly. “Para mim, a ciência sempre foi importante, não apenas pelo conhecimento mas também pelas oportunidades que oferece. Nesse momento, para mim, de tratamento”, disse Wilmut.

O pesquisador recebeu o diagnóstico antes do Natal do ano passado. Morador de uma região montanhosa da Escócia e afeito a caminhadas, Wilmut começou a sentir dificuldades para andar. Junto com tremores, é um dos primeiros sinais do Parkinson. A doença tem raiz em um desequilíbrio na disponibilidade cerebral de uma substância chamada dopamina. Isso acontece em razão da destruição gradual de células. Fenômeno semelhante ocorre em outras doenças, como o Alzheimer e várias de origem muscular e esqueléticas. Por esse motivo, a possibilidade de repor as células perdidas, devolvendo às áreas correspondentes suas funções, é uma das grandes apostas da medicina. É como trocar uma peça quebrada por outra, nova.

Prêmio nobel

Com Dolly, Wilmut e sua equipe mostraram ser possível criar essas peças de reposição. Em seu experimento, o cientista extraiu o código genético de uma ovelha adulta e o introduziu em outro óvulo, cujo núcleo havia sido previamente esvaziado. Esse zigoto gerou Dolly. O feito estimulou uma corrida em busca de células que pudessem virar matrizes de células especializadas. Dez anos depois, no Japão, o médico Shinya Yamanaka ganhou a disputa. Ele obteve células versáteis a partir da manipulação genética feita em células retiradas da pele de um ser humano adulto. Foram chamadas de células pluripotentes. Em 2012, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina por isso.

Hoje, há dezenas de estudos clínicos realizados usando as pluripotentes como forma de tratamento para diversas enfermidades. Para Parkinson, o primeiro grande trabalho em humanos deve ser iniciado até o fim do ano, no Japão. No Roslin de Wilmut, os preparativos começaram a ser feitos, com o apoio total do cientista. “Ele mudou os fundamentos do pensamento biológico”, disse Tilo Kunath, coordenador de um dos grupos do centro escocês, sobre a participação do mestre em seu trabalho. “Todos os pacientes de doenças neurodegenerativas se beneficiarão da descoberta de Wilmut. Inclusive ele”, diz a farmacêutica bioquímica Patrícia Pranke, integrante da Rede Nacional de Terapia Celular, que reúne os pesquisadores brasileiros envolvidos nas investigações nacionais usando células-tronco.