Precisamos falar de dinheiro.

Você não sabe, ou talvez só se faça de desentendido, mas está devendo uma grana preta.

Não só você. Eu também. E aquela sua vizinha. Seu cunhado chato. O primo do marido da moça do café, lá da firma. A própria moça do café e seu chefe também. Estamos todos devendo até os fundilhos das nossas calças.

E não estou me referindo a esse monte de carnês que você paga com o suor de seu trabalho diário.
Isso é molezinha.

Molezinha se você estiver empregado.

Porque se você é um dos 12.200.000 sem emprego (dados do IBGE em fevereiro de 2019), aí complica mais ainda. É bem possível que além dos carnês e dos boletos nossos de cada dia, você ainda esteja colaborando para gerar os
R$ 59.695.000.000 (dados do Valor Econômico em fevereiro de 2019) que os três maiores bancos do País lucraram em 2018.

O fato é que, com ou sem juros, com ou sem emprego, com ou sem carnês e boletos, você, eu e os outros 208.500.000 de brasileiros (dados do IBGE em agosto de 2018) temos uma dívida de R$ 7.525.895.414.546 (agora, dados do Dividômetro Auditoria Cidadã).

Vou soletrar, para você: sete trilhões, quinhentos e vinte e cinco bilhões, oitocentos e noventa e cinco milhões, quatrocentos e quatorze mil, quinhentos e quarenta e seis reais.

Desprezando propositalmente os centavos.

Esses eu garanto.

– Mas de onde saiu esse número? — você deve estar se perguntando atônito.

Essa é a soma de nossa dívida interna de R$ 5.523.121.023.828 com os R$ 2.002.774.390.718 da nossa dívida externa em dólares convertidos para reais.

Isso, claro, na segunda-feira 25, quando escrevo essa coluna.

Se você estiver lendo no sábado 30, some mais R$ 14.500.000.000, referentes aos R$ 2.900.000.000 (R$ 2,9 bi) que essa dívida cresce diariamente.

A essa altura você, que é bom pagador, deve estar se perguntando o que deve fazer para se livrar desse abacaxi.
Fiz a conta.

Com R$ 36.095 você paga a sua parte e tira esse peso dos ombros.

É uma pechincha.

Pelo preço de um carro usado você não precisará mais se preocupar com isso.

Poderá, por exemplo, ignorar a reforma da Previdência, já que sua parte está paga.

Por falar nisso, enfiados aí estão os R$ 491.000.000.000 (R$ 491 bi) referentes à dívida previdenciária.

Aí você dirá, apesar de ser megadevedor:

– Oba! Então quando pagarem esses R$ 491.000.000.000, minha dívida de R$ 7.525.895.414.546 diminuirá para
R$ 7.034.895.414.546, certo?

Errado.

O governo já disse que desses R$ 491.000.000.000, infelizes R$ 331.000.000.000 são irrecuperáveis.

Perdeu. Finito. Nil. Caput.

Ou seja, na improbabilidade dos devedores da Previdência pagarem alguma coisa, serão, no máximo R$ 160.000.000.000 (R$ 160 bi).

Com uma boa dose de esperança, esse dinheiro subtraído de sua dívida de 7.525.895.414.546 resultará em R$ 7.365.895.414.546, o que representa uma economia pífia de apenas R$ 767 para o seu bolso, que agora deve R$ 35.328.

O governo garante que, com a reforma da Previdência, vamos economizar R$ 1.160.000.000.000 (R$ 1,1 bi) em dez anos.

Mas você não vai querer esperar tudo isso, afinal, com a dívida crescendo nesse ritmo, daqui dez anos você vai estar devendo… Vejamos: R$ 2.900.000.000 ao dia x 365 x 10 = R$ 10.585.000.000.000 – R$ 1.160.000.000.000 = R$ 9.690.000.000.000.

Somados à dívida atual, dá R$ 16.724.895.414.546 (R$ 16 tri), o que faria sua parcela saltar para R$ 80.408.

Péssimo negócio.

Então, conterrâneo, você e eu só temos duas opções:

Ou pagamos logo nossos R$ 35.328 ou pressionamos nossos políticos a aprovar essa reforma.

Hoje. Porque amanhã, já são mais R$ 2.900.000.000.