COMÉRCIO Feira livre, ambulantes e aglomerações na favela: a vida dos moradores em comunidades como Heliópolis ainda não mudou (Crédito:Claudio Gatti)

No Jardim Mitsutani, também na zona sul da capital, muitas lojas estão fechadas. As ruas do bairro, porém, são tão estreitas que sequer permitem o distanciamento mínimo necessário recomendado pelas autoridades médicas em todo o País. “Em algumas casas moram dez pessoas em dois cômodos”, conta Gilmar Antonio Sousa, um dos líderes da comunidade. No Jardim Valquíria, vizinho ao Mitsutani, o decreto do governo do Estado que proíbe cultos e missas não tem sido sequer levado em consideração. Na igreja evangélica do bairro, o pastor recomenda apenas que os fiéis não se sentem muito próximos um do outro – a cerimônia, no entanto, acontece normalmente e com um agravante: a reunião acontece em um pequeno espaço fechado.

Acostumada a arrecadar alimentos para ajudar famílias que passam necessidades, a ONG Ação Geral luta agora para conscientizar a comunidade por meio de palestras na quadra de futebol, onde conversam “olho no olho” sobre a doença. “Conseguimos desenvolver um trabalho legal, explicar o que é o coronavírus e os riscos para os moradores”, afirma Jedderson Santos, diretor da ONG.

.Claudio Gatti

COMUNICAÇÃO Informações compartilhadas:moradores conscientes usam grupos de Whatsapp, mas a maioria não mudou os hábitos (Crédito:Claudio Gatti)

Apesar de seguir a vida normalmente, a comunidade corre riscos reais. Segundo Santos, quatro médicos foram afastados do trabalho na Unidade Básica de Saúde na região com suspeita de contaminação por Covid-19. A informação não é oficial, assim como ainda é desconhecido o número total de casos confirmados nas comunidades das grandes cidades brasileiras. Na Avenida dos Metalúrgicos, em Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade de São Paulo, os moradores também se comportaram no último fim de semana como se estivessem em dias de descanso normais. Ao meio-dia, no domingo (30), o clima de feira livre lotada seguiu o padrão de meses atrás. Alan, vendedor ambulante, reclama que foi forçado a trocar os produtos que está acostumado a vender por um dos itens mais requisitados do momento: a máscara descartável. Cada uma saía por R$ 5. “A situação está difícil por causa do coronavírus”, disse o ambulante.

União e solidariedade

Muitos moradores ainda não seguem as regras de quarentena e distanciamento social a sério, mas a crise do coronavírus pelo menos já despertou o sentimento de solidariedade em muita gente. Os times de futebol do bairro, por exemplo, se uniram ao grupo de Moto Clube e a produtoras como a Star, de música funk. Juntos, o grupo já arrecadou mais de mil cestas básicas, que são entregues de casa em casa às pessoas que mais precisam. A região de Cidade Tiradentes abriga o Hospital Santa Marcelina, local onde já morreram sete pessoas sob suspeita de Covid-19. Entre os poucos moradores que já compreenderam a gravidade da situação está Dirce Teriano, de 82 anos. “Lavo as mãos toda hora e só saio de casa para receber a cesta básica”, diz. Para Rubia Amara da Silva Oliveira, dona de um espaço de coworking na favela, o importante nesse momento é cuidar da vida das pessoas da comunidade. “Uma empresa que morre nós podemos ressuscitar, mas uma pessoa não”, afirma.

CONSCIENTIZAÇÃO A moradora Dirce Teriano, de 82 anos, segue as recomendações à risca: “Lavo as mãos toda hora e só saio de casa para receber a cesta básica” (Crédito:Claúdio Gatti)

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