Jake Gyllenhaal só conhecia Jeff Bauman pela fotografia que fez dele um símbolo de resiliência após o atentado durante a Maratona de Boston, em 2013. A imagem trazia o rapaz resgatado, de cadeira de rodas, após perder as duas pernas nas explosões. “Aquilo chocou o mundo. Quem conseguiu apagar aquela cena da memória?”, pergunta Gyllenhaal.

O ator californiano de 37 anos certamente não conseguiu — o que explica ele ter escolhido a história de superação do sobrevivente do ataque terrorista para inaugurar a sua produtora, a Nine Stories. Por ter sido difícil encontrar investidores para “O Que Te Faz Mais Forte” , ele mesmo financiou a produção de US$ 30 milhões, que acabou estrelando. O filme está em cartaz no Brasil.

“O que me interessou não foi o evento trágico que Jeff vivenciou e a mídia repercutiu pelo planeta”, disse Gyllenhaal à ISTOÉ durante a 13a edição do Festival de Cinema de Zurique (ZFF). “Para mim contou aquilo que aconteceu depois, no âmbito doméstico, quando esperavam que ele assumisse a postura de herói, mesmo sendo incapaz de se levantar.”

FATO E FILME Jake Gyllenhaal contou com o ex-atleta Jack Bauman para recriar o clima do atentado (Crédito:Divulgação)

Coragem

Com direção de David Gordon Green, o drama resgata a jornada física e emocional de Bauman, que apenas seis semanas após o atentado já deu os primeiros passos usando próteses. “Jeff costuma dizer que, se ele fez isso, qualquer um pode fazer. Mas não acredito que eu teria sobrevivido a algo tão inimaginável.”

Uma das cenas mais fortes do filme mostra o personagem no hospital, no momento em que o enfermeiro remove as suturas da cirurgia que amputou o que tinha sobrado de suas pernas. Como a câmera se posiciona no ombro do ator, o espectador tem a impressão de ter a perspectiva de Bauman, quando ele se deu conta mesmo de que tinha perdido as pernas. “A intenção não era chocar”, diz o ator. “Apenas queríamos dar ao público a verdadeira dimensão da coragem que ele precisou ter para recomeçar a sua vida daquele ponto em diante.”

Filho do cineasta Stephen Gyllenhaal e da produtora e roteirista Naomi Foner, o ator diz que reviver a trajetória de Bauman foi o seu trabalho mais difícil. Nem o caubói homossexual de “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), com o qual foi indicado ao Oscar de melhor coadjuvante, foi tão exaustivo emocionalmente. “Uma das piores coisas que tive de fazer foi perguntar a Jeff que tipo de tênis ele usava no dia do ataque. Nem posso imaginar a dor que a lembrança pode ter causado.”