Na Paulista, bolsonaristas pedem por anistia, mas sem entender a pauta

Bolsonaro e aliados organizaram ato para pressionar Câmara a pautar projeto que perdoa os crimes dos condenados pelos ataques de 8 de janeiro

Rosângela Padrim, 46 anos, saiu de Sorocaba para participar da manifestação
Rosângela Padrim, 46 anos, saiu de Sorocaba para participar da manifestação Foto: João Vitor Revedilho/IstoÉ

Eram 5h30 da manhã quando Rosangela Padrim, de 46 anos, chegou na fria Avenida Paulista. Com um batom na mão e entoando palavras de ordem, a sorocabana vê a anistia como necessária e as condenações contra os réus no 8 de janeiro como “injustas”.

O discurso é o mesmo usado por todos os manifestantes. Cartazes com nomes de réus foram colocados nas grades, com os dizeres de “Anistia Já”. A defesa da anistia, para os bolsonaristas, incluiria pessoas como Mauro Cid e Daniel Silveira. Na lista ainda estavam Oswaldo Eustáquio e Allan dos Santos, ambos acusados de incentivar a tentativa de golpe.

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Questionada sobre o que é anistia, Rosângela titubeou e afirmou acreditar em “liberdade de expressão”.

“Anistia é liberdade de expressão. Eles podem se expressar e tem esse direito. É uma prisão injusta”, disse ela.

Opinião parecida tem o paraguaio Carlos Fernandez, de 70 anos. Ele chegou no Brasil em 1973, após passar pela ditadura paraguaia.

Na visão dele, todos devem ser inocentados e disse não ver tentativa de golpe nos ataques de 8 de janeiro. Ele também acredita que anistia é dar ao povo o direito da liberdade de ir e vir.

Paraguaio, Carlos Fernandez vê anistia como "justiça" para os condenados pelo 8 de janeiro

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“Não houve golpe. Esse Supremo, esse Moraes está inventando isso para atacar o Bolsonaro”, opinou.

Questionado sobre as diferenças entre os governos de civis-militares no Paraguai e no Brasil, Fernandez disse que, em seu país, era uma “ditadura da esquerda”.

“A diferença, eu posso citar, está em Jair Messias Bolsonaro. Ele sempre pensou no povo. Aquele governo no Paraguai era uma ditadura da esquerda”, declarou.

As falas de ambos corroboram com as músicas temáticas tocadas na manifestação. Organizado pelo pastor Silas Malafaia, o evento contou com batuques de torcida organizada e até preparou músicas para afirmar não haver golpe e uma outra para Débora Rodrigues, cabeleireira presa por pichar a estátua do Supremo Tribunal Federal (STF).

Dos mais de 30 manifestantes que a reportagem conversou, apenas a paranaense Angélica Chagas, de 70 anos, soube responder sobre a anistia. Na visão dela, as penas foram pesadas para os crimes e criticou a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à anistia aos presos na ditadura militar.

“Quando eram os deles, ele defende. Agora que não é, fica em silêncio. As penas foram pesadas, não precisava tanto”, disse.

Angélica discorda da possibilidade de redução de penas e defende o perdão integral das penas. Mesmo afirmando não haver tentativa de golpe, ela concorda que houve vandalismo no 8 de janeiro.

“Uns 10 que vandalizaram apenas. Não foram todos. Esses, sim, devem ser penalizados. Mas os condenados foram lá para protestar de forma pacífica”, ressalta.

Mas afinal, o que é anistia

A anistia é o termo usado para perdão de crimes políticos cometidos por uma ou mais pessoas. Quando é concedido o benefício, a ficha criminal do beneficiado fica zerada, ou seja, os crimes são esquecidos.

Além disso, pessoas que estão para serem julgadas em curto prazo podem ser beneficiadas pela medida. Com o benefício, o julgamento fica suspenso.

A anistia é prevista por uma lei de 1979, que beneficiou presos políticos na ditadura militar. Na época, ela beneficiou 4,8 mil pessoas, desde militares até opositores do regime militar.

No caso atual, bolsonaristas pedem anistia para condenados pelo 8 de janeiro e outros crimes cometidos após o resultado das eleições de 2022. O projeto foi apresentado pelo PL e está travado na Câmara dos Deputados.

Bolsonaristas pressionam o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) a pautar a urgência do projeto para ser apreciado no plenário. Motta resiste e quer formar uma comissão especial.

Na última semana, o PL entrou em obstrução, enquanto Hugo Motta conseguiu segurar a assinatura de líderes no pedido de urgência, derrotando momentaneamente a ala alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro.