‘Na novela é arte, no funk é apologia’: famosos criticam prisão de MC Poze do Rodo

Marlon Brandon Coelho Couto Silva, o MC Poze do Rodo, foi preso na madrugada desta quinta-feira, 29, no Rio de Janeiro

Vídeo: MC Poze do Rodo se envolve em confusão na entrada de boate no Rio de Janeiro
Vídeo: MC Poze do Rodo se envolve em confusão na entrada de boate no Rio de Janeiro Foto: Reprodução/Instagram/@pozevidalouca

Alguns famosos usaram as redes sociais para sair em defesa de Marlon Brandon Coelho Couto Silva, o MC Poze do Rodo, que foi preso na madrugada desta quinta-feira, 29, no Rio de Janeiro, acusado de fazer apologia ao crime em suas músicas e de manter suposto envolvimento com o tráfico de drogas e com uma facção criminosa.

Segundo a corporação, o funkeiro é investigado por apologia ao crime e por envolvimento com o tráfico de drogas. Um dos casos citados é do baile funk na Cidade de Deus, dois dias antes da morte de um policial da Core durante uma operação. Um dos casos citados é do baile funk na Cidade de Deus, dois dias antes da morte de um policial da Core durante uma operação.

Fernando Henrique Cardoso, advogado de MC Poze do Rodo, informou que a prisão do artista é temporária e que ele deve ser transferido ainda nesta quinta-feira para o presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio.

De acordo com as investigações, Poze realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Nessas apresentações, cita a polícia, há a presença ostensiva de traficantes armados com armas de grosso calibre, como fuzis, garantindo a “segurança” do artista e do evento.

Segundo a defesa, policiais civis da DRE cumpriram mandado de busca e apreensão na residência do funkeiro para recolher joias — muitas delas com símbolos que fariam referência a traficantes ligados à facção criminosa Comando Vermelho — além de celulares, eletrônicos, documentos e possíveis armas de fogo. No entanto, de acordo com o advogado, nenhuma arma foi encontrada na casa.

O repertório das músicas apresentadas por MC Poze também foi analisado, o qual a polícia diz fazer “clara apologia ao tráfico de drogas, ao uso ilegal de armas de fogo e incita confrontos armados entre facções rivais, o que frequentemente resulta em vítimas inocentes”.

“A Polícia Civil reforça que as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão e artística, configurando crimes graves de apologia ao crime e associação para o tráfico de drogas”, afirma nota da secretaria.

Problemas com a Justiça

Poze chegou a ser preso em 2019 durante um show em Sorriso, no Mato Grosso, por apologia ao crime.

Em novembro do ano passado, Poze do Rodo foi alvo da Operação Rifa Limpa, ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro contra sorteios divulgados nas redes sociais.

Em abril deste ano, uma decisão da Justiça restituiu ao cantor os bens que haviam sido apreendidos na ocasião, como carros de luxo e joias.

Famosos apoiam Poze do Rodo

Por meio das redes sociais, diversos artistas manifestaram apoio ao cantor e criticaram o que consideram ser uma ação marcada por racismo estrutural e perseguição a artistas de gêneros marginalizados, como o funk e o rap.

“Nada vai apagar o brilho dele. Parece que foi ele quem roubou o INSS. Se tivessem metade da disposição para prender quem realmente faz coisa errada, o Brasil seria um país de primeiro mundo”, escreveu MC Daniel.

O rapper Oruam, que também já enfrentou acusações similares, afirmou que o amigo foi vítima de um sistema seletivo e opressor. “O Estado quer dar uma resposta à sociedade e prende um MC”, disparou.

“Prenderam o Poze, e a pergunta que fica é: acabou o crime? O Estado está perdendo, e, para dar alguma resposta, eles prendem o preto, o pobre, o favelado. Foi o que fizeram com o Poze. Hoje prenderam o Poze, amanhã vão prender a mim. Isso não vai parar. Para tirar a culpa deles, eles precisam encontrar um culpado”, declarou Oruam.

Já a deputada federal Erika Hilton se pronunciou e classificou a operação como desproporcional. “Esse tratamento que Poze do Rodo recebeu hoje não tem nada a ver com os crimes pelos quais ele é acusado. É só mais uma forma de um sistema extremamente corrupto e criminoso colocar a culpa em alguém”, escreveu.

Nos Stories do Instagram, MC Cabelinho criticou o que considera uma perseguição sistemática à cultura preta, periférica e favelada. “Desde sempre, a cultura preta, favelada, periférica é criminalizada. Desde sempre. E, ultimamente, isso vem se intensificando, tá ligado?”, afirmou o artista.

Cabelinho também comparou a situação de MCs como Poze e Oruam — outro funkeiro que foi alvo de investigações — com o tratamento dado a produções televisivas que retratam o crime.

“Quando eu atuei na novela das nove, em que fiz o papel de traficante em ‘Amor de Mãe’, na Globo, era arte, né? Quando fiz o papel de bandido na novela ‘Vai na Fé’, era arte. Quando um roteirista escreve a vida de um traficante e relata o que acontece na favela, é arte. Agora, quando um MC, funkeiro, favelado, relata o que acontece na favela, que é a realidade dele, é apologia ao crime. Vocês percebem o quanto isso é subjetivo?”, questionou.

Cabelinho ainda denunciou o tratamento dado a MC Poze no momento da prisão, que, segundo ele, teria ocorrido de forma humilhante. “O menor foi pra delegacia descalço, sem camisa, algemaram o menor, humilhando ele na frente da família, dos amigos”, disse. “Essa luta não é só sua, essa luta é nossa. Tô contigo, conta com o meu apoio, com o apoio dos meus fãs”, completou.