Maior esperança do Brasil na motovelocidade desde Alexandre Barros, o paulista Eric Granado sonha cada vez mais com a MotoGP. Aos 23 anos, ele é piloto de testes da Avintia, mesma equipe que defende na Moto-E, de motos elétricas, e acredita que nesta temporada tem todas as condições de se destacar nas pistas para conquistar sua chance na elite. Se isso acontecer, ele completará um ciclo iniciado aos quatro anos de idade, quando seu pai percebeu seu talento e passou a criar competições para seu filho começar sua trajetória na modalidade.

Granado tem passagens pela Moto2 e Moto3, tradicionais categorias de acesso à MotoGP. Neste ano, disputa a segunda temporada da Moto-E. Em 2019, terminou em terceiro lugar. “O título era possível, mas infelizmente não consegui por causa de erros e algumas quedas”, lamenta o piloto, em entrevista ao Estado.

Por isso, Granado encara 2020 como ano chave para suas ambições na motovelocidade. “Fui rápido e demonstrei que tenho potencial nas duas últimas corridas da temporada passada. Se eu fizer isso de novo, com certeza as equipes grandes vão olhar para mim e pode ser que eu receba uma oportunidade”, aposta. Ele poderá correr na MotoGP ainda neste ano por ser reserva dos titulares Johann Zarco e Tito Rabat. “Tenho que estar preparado para aguentar a corrida.”

Para estar em boas condições, o brasileiro já retomou os trabalhos físicos, principalmente na bicicleta. “Intensifiquei meus treinos em dezembro. Em janeiro, retomei o fortalecimento muscular para chegar bem nos testes da pré-temporada”, diz Granado, que se inspira no espanhol Marc Márquez.

O dono de oito títulos mundiais é seu parceiro de treinos na Espanha, entre uma etapa e outra da MotoGP – a Moto-E acompanha o calendário da principal categoria da motovelocidade mundial. “Treinamos juntos às vezes e conversamos bastante nos fins de semana de corrida. almoçamos juntos e sempre aprendo com ele. Conversando com ele, eu absorvo algumas coisas que podem me ajudar. É um cara que sempre ataca, está sempre dando o máximo. Isso é o que faz ele ser diferente.”

Mesmo com 23 anos, Granado já pode ser considerado um veterano da motovelocidade. Compete na Europa desde os nove anos. E, para chegar lá, precisou superar uma série de obstáculos, a começar pela falta de campeonatos para pilotos infanto-juvenis no Brasil. Seu pai, Marco Granado, precisou criar as primeiras competições do tipo no País para impulsionar a carreira do filho.

“Quanto eu tinha seis anos, meu pai importou uma moto de criança da Argentina. Então, tinha a moto, tinha o piloto, mas ia correr onde?”, lembra Eric. A solução foi tentar uma exibição com crianças no Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, na época, em Interlagos. “A gente passava pela reta dos boxes, fazia o S do Senna, a Curva do Sol e voltava pela saída dos boxes. Éramos apenas cinco pilotinhos.” Um ano depois, em 2004, já eram dez pequenos atletas.

Quando tentou disputar competição mais desafiadora, contra adultos, quase foi barrado. “O teste para entrar era levantar a moto do chão. Eu só tinha oito anos e a moto pesava 120kg. Fiz toda a força do mundo e consegui.” Passou, então, a competir com rivais de 20 e 30 anos.

O passo seguinte foi competir na Espanha, referência mundial da motovelocidade. A família Granado, então, começou a apostar forte no caçula. A mãe deixou uma multinacional para organizar a vida profissional do filho. O pai, que presta serviço para empresas de construção, começou a investir ainda mais o dinheiro da família na carreira de Eric. E até a irmã, jornalista, entrou na empreitada, cuidando de suas redes sociais. “Meu pai sempre acreditou muito em mim, sempre apostou todas as fichas em mim e isso foi fundamental.”

Entre Brasil e Espanha, o jovem piloto precisou adquirir novos hábitos para seguir em boas condições de competir. Passou a acompanhar o fuso europeu em solo brasileiro. “Acordava às 4h da manhã. Na escola, enquanto meus colegas comiam pão de batata no lanche eu levava macarrão na marmita. Ir dormir às 7h da noite”, recorda.

O sacrifício deu resultado. Em 2017, foi campeão mundial da Moto2. Com o sucesso, se estabeleceu em Barcelona. Desde então, vem alternando os dois países. No Brasil disputa também o campeonato brasileiro para acumular ainda mais quilometragem na pista e manter contato com os patrocinadores.

Mas, em São Paulo, moto somente na pista. “Nem tenho moto. Não gosto muito de sair. E, quando estou na rua, eu não me sinto seguro. Mas não por mim. Pelos outros. Infelizmente o pensamento das pessoas dirigindo hoje em dia é de pressa. Por isso tem motoqueiro que cai e se arrebenta.”