Evo Morales tem um método muito particular de se eternizar como presidente da Bolívia: fraudar as eleições, rasgar as leis de seu país e contar sempre com o apoio do Tribunal Supremo Eleitoral — nele, Evo possui franca maioria de juízes a seu favor, gente amiga que foi colocando na instituição desde o seu mandato inicial, para o qual foi eleito em 2005, tornando-se o primeiro indígena a ganhar o cargo de mais alto mandatário boliviano. Na semana passada, novamente ele colocou para funcionar a tal tática inescrupulosa, e de forma tão escancarada que, na quarta-feira 23, a OEA anunciava uma auditoria na contagem dos votos. Pela quarta vez consecutiva, Evo se proclamava vencedor do pleito, enquanto o seu adversário, o ex-presidente Carlos Mesa, anunciava que não reconhecia a derrota. Enquanto isso, a população ia para as ruas — eleitores, de ambos os lados, se manifestavam por meio de depredações, incêndios e conflitos com a polícia e militares.

APOSTA A apuração dos votos segue dois métodos: Evo fica com aquele que o elege (Crédito:Marcelo Perez Del Carpio / Anadolu Agency)

O truque do triunfo de Evo Morales é vergonhoso. Encerrada a votação no domingo 20, ficaram estabelecidas duas formas de contagem de votos: uma por meio de planilhas que totalizavam cada seção; a outra era pela arcaica conferência de voto por voto. O “imbatível” estava perdendo, e então às 22h40, com 89% das urnas apuradas, a divulgação da apuração saiu do ar. Evo estava com 45,7%, Mesa, com 37,8%, e, assim, previa-se segundo turno. Na segunda-feira a contagem novamente ganhou publicidade, mas, aí, o tribunal proclamava vencedor Evo Morales, para um quarto mandato, com 46,86% dos votos, contra 36,73% de Mesa (na Bolívia, se um candidato chega a 40% e mantém 10% de superioridade, já é considerado ganhador).

O tribunal de amigos

LUTA O povo protesta: das vezes anteriores, só apanhou e perdeu nas reivindicações (Crédito:Jorge Bernal / AFP)

As manobras de Evo para não descolar da cadeira que ocupa são antigas. Em 2009, a Constituição fixou que só poderia haver uma reeleição. O malabarista se safou decretando que isso só valeria daquele momento para frente. Em 2016, um referendo determinou que Evo não mais poderia ser candidato. Lembram do tribunal de amigos do qual se falou acima? Pois é: tal tribunal anulou o referendo. A política populista de Evo Morales cansou e empobreceu a população que agora se revolta. Pode ser que a OEA tenha algum peso decisório. Pode-se ser também que se faça outra eleição. Mas uma coisa é certa: se ela ocorrer, será mais uma vez manipulada.