A decisão dos Estados Unidos de bloquear uma condenação internacional ao bombardeio sangrento de um centro de migrantes na Líbia, atribuído às forças de Khalifa Haftar por seus inimigos, mostra o apoio do governo Trump ao homem forte do leste líbio – afirmam especialistas ouvidos pela AFP.

Este apoio ao marechal Haftar se manifesta em detrimento do Governo de Acordo Nacional (GNA) de seu rival Fayez al-Sarraj. Este último é reconhecido pela ONU como a única autoridades legítima no país.

“Não é uma surpresa. É um sinal da mudança da política americana para a Líbia”, observa James Dorsey, especialista em Oriente Médio na S. Rajaratnam School of International Studies, que fica em Singapura.

Na quarta-feira, após mais de duas horas de reunião, os Estados Unidos impediram a adoção, por parte do Conselho de Segurança da ONU, de uma condenação unânime ao sangrento ataque ontem perto de Trípoli que deixou mais de 40 migrantes mortos e cerca de 100 feridos.

A missão americana na ONU não explicou as razões do bloqueio, ainda que Washington tenha denunciado o ato “abjeto” contra o centro de migrantes na véspera.

Sem apontar culpados, o projeto de texto proposto pelo Reino Unido pedia um cessar-fogo e o retorno ao processo político.

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– Contatos com Haftar –

Segundo uma fonte diplomática europeia, nenhuma instrução saiu de Washington para que se autorizasse definitivamente a publicação da declaração.

“A posição dos Estados Unidos é perfeitamente coerente com sua política dos últimos anos, que fechou os olhos para as flagrantes violações dos direitos humanos, quando eram cometidas por seus aliados”, considera Karim Bitar, diretor de Pesquisa no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicos (IRIS), de Paris.

“O governo Trump e seus aliados do Golfo receberam de braços abertos os métodos brutais e o programa autoritário de Haftar”, acrescenta este especialista em Oriente Médio e em política externa americana.

Mergulhada no caos desde a queda, em 2011, do governo de Muamar Khadafi, a Líbia é dirigida por duas entidades rivais: de um lado, o GNA de Fayez al-Sarraj, que controla o Oeste do país; e, do outro, um governo paralelo com sede no Leste, apoiado por Khalifa Haftar.

“Os Estados Unidos não retiraram seu reconhecimento, nem revogaram seu apoio ao GNA, mas houve, de fato, contatos no mais alto nível com Haftar”, observa Dorsey.

“Segundo Washington, Haftar atende a dois critérios: se posiciona contra os islamistas e é apoiado por dois de seus aliados mais próximos na região – os Emirados Árabes Unidos e a Arábia saudita”, acrescenta James Dorsey.

Haftar também tem o apoio não declarado de Egito, França e Rússia, enquanto o GNA teria o suporte claro de Turquia e Catar.


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