ROMA, 13 OUT (ANSA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu as portas para o diálogo com seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira (13), e disse ter “excelentes relações” com ele.
A declaração foi dada em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, após sua chegada a Roma para participar do Fórum Mundial da Alimentação da FAO.
“Tive duas excelentes reuniões com o presidente Trump, primeiro em Nova York e depois, na semana passada, por telefone. Foram conversas muito amigáveis entre dois presidentes experientes de países que representam as maiores democracias do Ocidente”, afirmou.
Segundo o petista, as equipes de ambos estão agora “trabalhando para organizar um encontro presencial”, principalmente porque “o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo e à negociação, mantendo uma posição muito clara: nossa democracia e soberania são inegociáveis”.
Questionado se estava surpreso com a “excelente química” que encontrou com Trump, Lula disse estar convencido de que algumas das decisões do republicano foram tomadas com base em informações incorretas que lhe foram fornecidas sobre a situação política e o comércio internacional do Brasil.
“O Brasil e os Estados Unidos têm 201 anos de sólidas relações diplomáticas e comerciais e, graças a esse diálogo, seremos capazes de fortalecê-las ainda mais, em uma verdadeira relação vantajosa para ambas as partes, que beneficie os povos dos dois países”, destacou.
Na entrevista, Lula também denunciou a fome e a pobreza, ressaltando que ambas não são resultado da escassez, mas sim fruto de uma escolha política.
De acordo com ele, “em 2024, os gastos militares registraram o maior aumento desde o fim da Guerra Fria, chegando a US$ 2,7 trilhões. Ao mesmo tempo, 673 milhões de pessoas sofrem com a fome”.
Para o petista, “essa situação continua sendo uma vergonha para a humanidade”, apesar de ter ocorrido “uma pequena melhora, para a qual o Brasil contribuiu”.
“Mais de 26,5 milhões de brasileiros saíram da insegurança alimentar grave em 2023 e 2024. Saímos do Mapa da Fome da FAO pela segunda vez”, explicou.
Além disso, ressaltou que, “por meio da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que lançamos durante nossa presidência do G20, queremos que todos os países sigam esse caminho, para que possamos erradicar a fome em todo o mundo”.
Ele comentou também que o “primeiro grande desafio” da esquerda, para reagir e responder aos novos desafios do presente, diante de uma direita global cada vez mais forte e coesa, é “defender, com todas as nossas forças, a democracia que a extrema direita tanto tenta minar”.
“Digo isso porque só a democracia possibilita grandes transformações sociais. E porque, sem ela, jamais teria sido possível para mim, um trabalhador de origem humilde, ascender à presidência de um país que, até então, era governado apenas por uma elite completamente desconectada da realidade do povo brasileiro”, destacou.
Lula aproveitou para denunciar “uma tentativa de golpe no Brasil e um complô para assassinar” ele, o vice-presidente Geraldo Alckmin e um ministro da Suprema Corte, Alexandre de Moraes.
“Tudo isso está documentado e foi declarado pelas mesmas pessoas que participaram daquele crime. Agora, pela primeira vez em 525 anos de história, um ex-chefe de Estado foi condenado por um complô golpista. Isso servirá de exemplo para que ninguém ouse atacar novamente o Estado Democrático de Direito no Brasil”, afirmou, classificando Bolsonaro como “golpista”.
Por fim, garantiu que a COP30, em Belém, será a COP da verdade, um “momento em que veremos quem realmente acredita e quem não acredita no que a ciência nos mostra”.
“É hora de agir. Se não agirmos, a humanidade perderá a fé nessas reuniões. Em 2009, os países ricos se comprometeram a mobilizar US$ 100 bilhões por ano para ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentar as mudanças climáticas. Esse compromisso não foi cumprido e alimentou o negacionismo”, advertiu.
Durante a cúpula, Lula lançará o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um novo mecanismo para recompensar os países que mantêm suas florestas. O Brasil foi o primeiro país a se comprometer, investindo US$ 1 bilhão no fundo.
“É crucial que outros países estejam igualmente comprometidos. O Brasil também deu o exemplo ao apresentar metas ambiciosas ? Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs ? para reduzir todas as emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67%. É essencial que todos os países sigam o mesmo caminho”, concluiu.
(ANSA).