Enquanto a Polícia Federal deflagra operações para prender os envolvidos em atentados violentos ocorridos em Brasília e os acampamentos bolsonaristas perdem força diante da iminente posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se dividem nas redes sociais.

O clima nos grupos de conversa é de esperança e resignação, mas alguns optam pelo tom de revolta. “Meu protesto nunca foi por Bolsonaro, foi pelo Brasil, foi pelas Forças Armadas”, disse um apoiador ao comentar a notícia de que o atual mandatário irá viajar para os EUA antes da virada do ano.

“Ele é um frouxo. Me sinto mal por ter acreditado que ele iria acionar o Exército”, escreve uma apoiadora em um grupo de Telegram que reúne os manifestantes da capital federal. Outros dizem que tudo não passa de mais uma etapa do plano: ir para o estado da Flórida, conquistar o apoio de Donald Trump e deixar livre o caminho para as Forças Armadas darem o derradeiro golpe e impedir “que o Nine suba a rampa”, como chamam pejorativamente Lula. Porém, com a desmontagem de boa parte do acampamento em Brasília, muitos apoiadores e simpatizantes da causa bolsonaristas simplesmente estão abandonando o barco.

O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicou em suas redes sociais a imagem de pantufas verdes com o emblema do Exército. Sem nenhuma legenda, deu margem para interpretações, estaria ele “pendurando as chuteiras” ou criticado os militares por voltarem a vestir seus pijamas?

No Telegram, a indignação principal está com a tentativa de desmonte total do QG de Brasília, onde muitos alegam que o futuro Ministro da Justiça, Flávio Dino, teria proibido aos bolsonaristas de circular por Brasília no dia da posse. Ao pedir a volta da ditadura militar, muitos reclamam que o futuro governo quer impedir a liberdade de expressão.

O apoiador Biel, conhecido no círculo de extrema-direita, escreveu em seu canal do Telegram: “Aconteça o que acontecer, eu me despeço de vocês esse ano, vou tentar retomar a minha vida normal, buscar meu próprio futuro e não esperar por ele”.

Na página “Prints Bolsonaristas”, que reúne os bastidores de diversos grupos golpistas, os relatos feitos em forma de captura de tela, beiram o surrealismo: apoiadores alegando que o evento da posse será uma armação, mas que haverá ajuda militar do Catar – país visitado por Eduardo Bolsonaro durante a Copa do Mundo – para manter Bolsonaro no poder até que novas eleições possam ocorrer.

Os filhos do presidente, apesar de não incitarem diretamente as bases de apoio, publicam notícias confusas para gerar alguma reação em seus seguidores, com assuntos confusos que vão do aumento dos combustíveis ao consumo de picanha. As respostas das publicações, contudo, são repletas de piadas e de “patriotas traídos”.

Em uma publicação do vereador Carlos Bolsonaro, um seguidor respondeu: “Infelizmente nosso presidente é um covarde. O povo se uniu em setembro de 2021 e 2022, suplicou ‘eu autorizo’ e o que ele fez? Nada”.

Se o fim do governo Bolsonaro não significa o fim do bolsonarismo e da polaridade na política brasileira, a extrema-direita terá, pelo menos, que criar uma narrativa minimamente credível para não “trair” em definitivo seus fiéis apoiadores. O silêncio de Bolsonaro, antes poético e misterioso, começou a dizer muito mais do que ele pretendia.