Igrejas pontuam as colinas verdes do Condado de Rabun, na Geórgia, onde bandeiras americanas tremulam e Deus é tudo – mas Donald Trump não está muito longe.

Neste estado do sudeste americano, os fiéis estão bem cientes de que o ex-presidente republicano dificilmente pode ser considerado um modelo de cristão.

Mas são rápidos em perdoá-lo porque três juízes da Suprema Corte inclinados para o conservadorismo nomeados por ele votaram em 2022 para reverter a histórica decisão Roe v. Wade, eliminando o direito constitucional das mulheres ao aborto.

Com olhos azuis penetrantes, Yance Thompson, de 40 anos, vive em uma dessas colinas verdes banhadas pelo sol nas Montanhas Apalaches. Uma Bíblia repousa na mesa do pátio de sua casa espaçosa.

Ele e sua esposa, Meredith – com quem têm 10 filhos, nove deles adotados – falam em uníssono sobre fé e política: “acredito que o aborto é errado”.

“Eu diria que ele fez um ótimo trabalho nisso”, diz Yance Thompson sobre Trump. “Eu não gosto do aborto de jeito nenhum. Sinto que não é aceitável”, acrescenta.

“Sinto que uma criança é uma criança assim que a concepção acontece”, emenda Meredith, de 38 anos.

“Eu não concordo com aborto de jeito nenhum. Parte meu coração. Isso me deixa muito triste”, acrescenta. Quase metade dos moradores do condado de Rabun se identifica como cristãos evangélicos, e mais de 70% se consideram religiosos.

Como uma criança cujo pai era um pregador, Yance sorri e diz: “Eu estava sempre na igreja. Eu cresci na igreja”.

Após várias mudanças, ele voltou para o Condado de Rabun, um dos mais conservadores e evangélicos da Geórgia. “Você tem essa sensação real de comunidade”, diz ele.

“Você vê famílias que permaneceram nessas igrejas e foram fiéis por centenas de anos”, continua.

“Vivemos meio que em uma pequena bolha por aqui,” diz Meredith.

Ambos dizem que vão votar republicano em novembro.

– Cinturão da Bíblia –

Yance Thompson não fecha os olhos para algumas das falhas de Trump. Ele diz que o magnata não é um político “ruim”, embora admita que ele possa não ser um cristão tão bom.

Em 2023, Trump foi considerado responsável por assédio sexual; em maio passado, foi condenado por 34 acusações de falsificação de documentos comerciais relacionados a pagamentos para comprar o silêncio de uma ex-atriz pornô às vésperas da eleição de 2016. Trump já foi dono de cassinos e se casou três vezes.

O republicano de 78 anos, que foi alvo de uma tentativa de assassinato em julho, no entanto, jogou a cartada da intervenção divina na campanha, dizendo que Deus salvou sua vida.

Essa linha de discurso certamente terá boa acolhida entre os eleitores mais religiosos, incluindo aqueles no condado de Rabun, no coração do Cinturão da Bíblia americano, que vai dos estados do sudeste, como a Geórgia, até o Texas.

Nesta região, moradores exibem bandeiras confederadas em suas caminhonetes.

Logo ao lado, muitas vezes, veem-se faixas com os dizeres “Trump 2024” tremulando.

De fato, esta é a nação de Trump – ele venceu na Geórgia em 2016 e os cristãos evangélicos foram chave para essa vitória. No Condado de Rabun, oito em cada 10 pessoas votaram em Trump em 2020, quando ele perdeu por pouco para Joe Biden.

Meredith Thompson, que administra uma loja de móveis, frequentou a escola cristã e uma universidade cristã.

Ela diz que reza sempre que pode. Sua oposição ao aborto a levou a votar consistentemente no republicano, afirma.

“Parece que muito da natureza democrata é muito controversa, é muito raivosa. Você sabe, protestam queimando prédios. Eu não gosto de violência”, diz ela.

“Eu sou obviamente inclinada para o Partido Republicano. Quero que nossas liberdades permaneçam intactas”, prossegue.

– “Na ponta dos pés” –

Na cidade de Clayton, a sede do condado de Rabun em meio à floresta, o domingo é dedicado à oração.

A igreja batista no centro da cidade está lotada – mais de 400 pessoas ocupam cadeiras em um ginásio que foi transformado em local de culto, com um grande telão e muita música.

A família Thompson senta na primeira fila enquanto Yance faz um sermão.

Todos se lembram do que aconteceu há quatro anos, quando Biden derrotou Trump por pouco na Geórgia – um estado dividido entre áreas urbanas predominantemente democráticas, como Atlanta, e zonas rurais conservadoras – por menos de 12.000 votos.

Trump foi indiciado na Geórgia por tentar reverter o resultado da eleição de 2020.

Will Griffin, um jovem pastor da igreja batista em Clayton, diz que as pessoas ainda estão irritadas com essa derrota.

“Elas sentem como se o tapete tivesse sido puxado debaixo delas na última eleição”, diz ele. “E, então, todos estão na ponta dos pés”, afirma, refletindo sobre o que acontecerá desta vez.

“Vão votar em seu candidato. E vão esperar e realmente rezar para que o processo seja confiável”, continua.

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