Na França, a difícil campanha da aliança de Macron nas eleições europeias

“Nada está decidido!”. Na reta final da campanha eleitoral europeia, a aliança do presidente centrista Emmanuel Macron busca contrariar as previsões que preveem uma forte derrota na França, onde a extrema direita desfruta de uma posição de força.

Macron, que chegou ao poder em 2017 com uma imagem de líder pró-europeu e liberal, corre o risco de perder influência na União Europeia e ofuscar o fim do seu mandato que termina em 2027, caso haja uma forte vitória da extrema direita.

“Devemos nos mobilizar. Os próximos sete dias serão decisivos porque a maioria dos nossos concidadãos ainda não tomou sua decisão”, disse o primeiro-ministro Gabriel Attal no sábado, na tentativa de motivar seu eleitorado.

O desafio parece difícil. Uma pesquisa do instituto Ipsos publicada na segunda-feira (3) colocou o candidato de extrema direita Jordan Bardella na liderança com 33% das intenções de voto, à frente da candidata de situação Valérie Hayer (16%) e do social democrata Raphaël Glucksmann (14,5%).

“Hayer está obviamente ligada a Emmanuel Macron e ao governo, que são claramente impopulares neste momento”, explica Mathieu Gallard, diretor de estudos da Ipsos, à AFP.

Além disso, o partido de extrema direita Rassemblement National (RN, Reunião Nacional) conseguiu se estabelecer como a “principal força de oposição” desde 2022, diante de uma esquerda dividida, enquanto Macron “não conseguiu explicar” que “direção” quer dar ao seu atual segundo mandato, acrescenta o especialista.

– “Nada está decidido!” –

O desejo de uma virada, no entanto, pairava sobre o último grande comício de campanha de sua aliança centrista “Besoin d’Europe” (Necessidade da Europa), no sábado, em Aubervilliers, ao norte de Paris, com Attal e Hayer, uma pouco conhecida eurodeputada de 38 anos.

“Até o último quarto de hora nada está decidido! Façamos o que sabemos fazer: campanha! Campanha entre todos os franceses, nos mercados, nas estações, em suas portas e nas caixas de correio”, pediu a candidata aos 2.500 apoiadores presentes.

Seus militantes, no entanto, também enfrentam a indiferença dos eleitores, muitos dos quais não hesitam em expressar abertamente o apoio ao candidato da extrema direita, algo inimaginável anos atrás.

“As pessoas dizem sem complexos, olhando nos seus olhos, que vão votar em Bardella”, explica à AFP Laura Ruano, de 54 anos, militante do partido de Macron, enquanto distribuía panfletos em um mercado de um bairro nobre de Paris onde costumam ganhar.

Em uma manhã cinzenta de início de junho, Ruano e outros seis militantes, acompanhados pelo deputado da situação Sylvain Maillard, procuravam superar o “relativo interesse” dos eleitores neste pleito.

“Nosso objetivo até o final da campanha é dizer o quão importante é a Europa se mobilizar”, assegura Maillard à AFP.

Mas a principal preocupação expressada pelos cidadãos, segundo Ruano, é a “segurança”.

“Não há mais autoridade”, disse a Maillard um homem de boné e com duas baguetes na mão. “Todos no meu prédio vão votar em Bardella. Já estamos fartos. Eles vão dar uma surra no domingo”, acrescentou o pedestre, apesar dos esforços do deputado para desqualificar o programa do candidato de extrema direita.

– “Mansplaining” –

Para tentar inverter a tendência, Attal e Macron multiplicaram as entrevistas na mídia e o primeiro-ministro aceitou até mesmo um debate cara a cara com Bardella, provocando a indignação do restante da oposição.

O mal-estar aumentou na segunda-feira, quando Attal surgiu em uma entrevista com a candidata Valérie Hayer e durante vários minutos falou em seu lugar, uma atitude qualificada como “mansplaining” (condescendência machista) pela candidata esquerdista Manon Aubry.

A oposição também denunciou a entrevista em horário nobre que o presidente francês deverá conceder na quinta-feira por ocasião do 80º aniversário do Desembarque na Normandia, apenas três dias antes de os franceses irem às urnas.

Dado o envolvimento de ambos na campanha, um “mau resultado” de Hayer poderia “enfraquecer” Attal, nomeado primeiro-ministro em janeiro como “a arma antiBardella”, e Macron, cuja influência poderia ser “reduzida” na UE e para quem seria difícil aprovar leis na França, segundo Mathieu Gallard.

Se as pesquisas se confirmarem, o RN poderá estar entre os primeiros partidos em número de eurodeputados no Parlamento Europeu. Muitos temem que esta situação abra caminho para que a sua líder, Marine Le Pen, chegue ao poder na França em 2027. “Tenho medo de 2027.

Se ela chegar ao poder, não sei o que vai acontecer”, diz Martine, uma aposentada de 67 anos em Aubervilliers, que diz que “não ousa” pronunciar o nome de Le Pen e garante que vai votar em Hayer para “frear” a extrema direita.

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