Mar Galcerán, a primeira pessoa com síndrome de Down eleita deputada na Espanha, se propôs a mudar a visão que a sociedade tem sobre esta condição, uma questão que centrou uma revisão da Constituição espanhola aprovada nesta quinta-feira (25).

Aos 46 anos, esta política articulada e sorridente entrou, em setembro, para o seleto círculo de pessoas com síndrome de Down que ocupam cargos eletivos na Europa, ao assumir um assento no Parlamento regional de Valencia, no leste da Espanha.

Esta deputada do conservador Partido Popular quer aproveitar seu mandato para “mudar a visão que a sociedade tem a respeito das pessoas portadoras de deficiência”, explicou à AFP no plenário das Cortes Valencianas.

É também o que espera da revisão da Constituição de 1978, aprovada definitivamente nesta quinta-feira pelo Senado espanhol, que substituirá o termo “diminuído”, considerado degradante, por “deficiente”.

Como já ocorreu na semana passada na Câmara baixa, o texto foi aprovado pela esmagadora maioria dos senadores, muito acima dos três quintos necessários, e com votos contrários apenas do partido de extrema direita Vox.

“O termo diminuído, o termo inválido, é uma ofensa, um insulto ao coletivo das pessoas portadoras de deficiência”, disse Galcerán à AFP.

Esta reforma, que também amplia os direitos do coletivo, é a terceira alteração da Constituição espanhola desde sua aprovação, em 1978, três anos depois do fim do franquismo, e a primeira de caráter social.

Esta mudança é um lembrete de que “as palavras contam”, insiste Mar Galcerán, que pede que os portadores de deficiência sejam considerados “pessoas”, independentemente de sua condição.

Afiliada ao Partido Popular aos 18 anos, esta representante regional lutou desde jovem contra a discriminação por sua diferença genética – os afetados têm um cromossomo a mais -, principalmente quando foi presidente da Asindown, associação valenciana de pessoas com síndrome de Down.

Apreciadora de corrida e da dança, ela guarda na memória uma adolescência marcada pela “rejeição”.

“Tive colegas, mas não amigos, porque me viam como uma pessoa diferente” e “não contavam comigo”, lembra. Então, “sofri, sim, com a rejeição, essa rejeição que sofrem as pessoas com deficiência”.

Mais que a sociedade ou as políticas públicas, esta ex-auxiliar de puericultura agradece, sobretudo, à sua “família” por tê-la “apoiado nas decisões” que tomou.

Depois de assumir seu mandato, Galcerán se envolveu na comissão parlamentar sobre deficiência que merece, segundo ela, uma estratégia “transversal” que inclua saúde, família, educação e emprego, e onde há muito a fazer.

Ela considera positiva a reforma constitucional, mas acredita que a mudança tinha “que ter se antecipado” e “não esperar até agora”.

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