RIO DE JANEIRO, 6 JUL (ANSA) – Por Patrizia Antonini – As tarifas americanas e a defesa contra o protecionismo de Donald Trump dominaram a cúpula dos líderes do Brics.
Com os olhos voltados para 9 de julho, data limite para a trégua tarifária de 90 dias ditada por Washington, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu cerrar fileiras com o bloco, que representa 40% do Produto Interno Global (PIB), nomeando-o “para liderar um novo modelo de desenvolvimento sustentável”.
A cúpula também foi aberta com uma reflexão sobre a situação geopolítica, com os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia ainda em alta, e a necessidade de aprofundar as “negociações para alcançar um cessar-fogo imediato, permanente e incondicional, com a retirada total das forças israelenses da Faixa de Gaza e de todas as outras partes dos territórios palestinos ocupados”.
Uma complexidade refletida nas conclusões, para as quais os sherpas encontraram uma solução antes do início da reunião de líderes, superando a resistência do Irã, que buscava uma linguagem de forte condenação aos bombardeios dos EUA e de Israel.
No documento final, os 11 países (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia) expressaram “sérias preocupações” com a escalada do protecionismo e das medidas comerciais unilaterais. No entanto, os EUA ou Trump não foram mencionados, talvez para evitar irritar o republicano com quem todos – para o bem ou para o mal – nessas horas se veem tendo que lidar.
O texto também inclui referências ao protecionismo da União Europeia, que surgiu durante as negociações do acordo comercial com o Mercosul. O documento fala em “pretextos ambientais” para indicar medidas que afetam produtos como a carne e a soja brasileiras, ou o óleo de palma indonésio.
Um cenário em que Lula convida o Sul global a formar uma frente comum, também com a busca de uma moeda comercial alternativa ao dólar, lembrando que 31% dos projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento dos Brics são realizados nas moedas dos países-membros.
A sinergia entre os países em desenvolvimento “nos permitiu enfrentar conjuntamente os efeitos da crise financeira de 2008 e da Covid-19. Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe aos Estados emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional”, disse Lula, que reuniu o consenso dos parceiros sobre a tributação dos super-ricos.
Por outro lado, o líder brasileiro lembrou que o bloco possui uma força econômica significativa. Entre suas muitas riquezas, detém, por exemplo, 84% das reservas mundiais de terras raras, 66% do manganês e 63% de grafite, com a demanda por minerais críticos prevista para triplicar até 2040. Um patrimônio a ser alavancado, principalmente para “liderar um novo modelo de desenvolvimento sustentável”. (ANSA).