21/06/2020 - 8:50
Pelé sempre fala com carinho da seleção de 70. Nada daquele Mundial sai de suas memórias. Os jogadores se respeitam até hoje e falam uns dos outros com orgulho e admiração. Basta perguntar de um para outro que os elogios chegarão naturalmente. É por muitos a melhor seleção de todos os tempos, com futebol empolgante, craques em campo e vencedora. A seleção do tri tinha Pelé, o melhor de todos, então com 29 anos. O fracasso do Brasil na Inglaterra em 1966 fez com ele reavaliasse sua despedida do time nacional como havia planejado. Disse que não queria mais. Mudou de ideia. Naquela época, achava que disputar três Copas do Mundo estaria de bom tamanho para um menino que saiu de Três Corações (MG) para ganhar o mundo e a reverência de todos no esporte que seu pai também jogava.
Pelé estava feliz com sua vida e carreira. Tivesse jogado em melhores condições físicas e não se machucado no torneio mundial vencido pelos inventores do futebol, que também eram os anfitriões da festa, Pelé teria parado ali mesmo. Admitiu isso em seu Instagram, ao escrever após postar uma foto sua em branco e preto numa estação de trem inglesa em 1966. “Esse sou eu depois que o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Eu jurei nunca mais jogar outra Copa. A lição é que você nunca deve ter medo de mudar de ideia.”
Felizmente para o futebol brasileiro, e para uma geração de torcedores, Pelé mudou de ideia. Aos 29 anos, idade não muito nova para um jogador de futebol naquela década, o camisa 10 do Santos continuava sendo sua majestade em campo e chegou ao México disposto a ganhar o tri. Pelé se pautou por isso. Disse a todos os seus companheiros que aquela seria sua última oportunidade de ser campeão mundial novamente (já havia sido em 1958 e 1962) e queria contar com todos eles para isso.
Chamado de presidente, Pelé fez de tudo para retribuir o carinho e empenho de todos. Quando algum problema aparecia na concentração que fosse mais sério, lá estava Pelé para fazer o meio de campo entre o grupo e os dirigentes, pedindo para a comissão colocar panos quentes em algumas encrencas porque o objetivo era maior do que tudo: ser campeão.
Pelé, já coroado rei, treinava como se fosse um juvenil. Dava exemplo. Comia o que era servido e inibia a todos de reclamar e perder o foco. Para ele nada podia atrapalhar aquele grupo. Também apanhava sem reclamar em campo, como foi na partida contra o Uruguai na semifinal, quando também mostrou ao mundo que sabia bater, discretamente. Seu físico era privilegiado. Tinha pelos companheiros, outros camisas 10 de seus respectivos times no Brasil, respeito e admiração. Pelé não era daquele jogador que olhava feio para o colega quando ele tentava uma jogada e não lhe passava a bola, mesmo se estivesse mais bem posicionado. Sabia que estava ao lado de lendas do futebol, se não naquele ano de 1970, certamente depois dele.
Foi o que se tornaram Gerson, Rivellino, Tostão e Jairzinho, só para citar os jogadores do ataque. Havia outros. Clodoaldo e Paulo Cézar Caju, por exemplo. Quando uma falta era marcada para o Brasil na entrada da área, o trio que aparecia para cobrar a infração, em uma rápida conferência, tinha Pelé, Gerson e Rivellino. Goleiro nenhum poderia se sentir confortável e confiante diante da trinca.
Pelé já disse algumas vezes que a seleção de 70 teve dois méritos: o tempo para treinar e a escalação de um ataque em que todos eram 10 em seus respectivos times. Ele, no Santos; Tostão, no Cruzeiro; Gerson, no São Paulo; Rivellino, no Corinthians; e Jairzinho, no Botafogo. Naquela época, o dono dessa camisa era o craque da equipe. Depois, com o passar do tempo até chegar nos dias de hoje, isso se perdeu. Todos esses camisas 10 marcaram gols na Copa de 70, ajudando Pelé a realizar seu sonho. A festa após a final contra a Itália no Estádio Azteca, na cidade do México, dimensiona o que a seleção brasileira e seus jogadores representam na história do futebol. Em sua casa, Pelé guarda com carinho o chapéu mexicano colocado em sua cabeça quando ele foi erguido nos ombros de torcedores na comemoração. A Copa de 70 deu a Pelé o que já pertencia a Pelé: reinado e glória para sempre.