SÃO PAULO, 28 OUT (ANSA) – As emissões brasileiras de gases do efeito estufa aumentaram 9,5% em 2020, informou o relatório publicado nesta quinta-feira (28) pelo Observatório do Clima com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). O resultado vai na contramão do mundo, que reduziu as emissões em quase 7% por conta da pandemia de Covid-19.   

Segundo o documento, esse é o maior montante emitido pelo país desde 2006 e foi influenciado pela “alta no desmatamento no ano passado, em especial na Amazônia”. “O SEEG calculou em 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) as emissões nacionais brutas no ano passado, contra 1,97 bilhão em 2019. É o maior nível de emissão do país desde 2006”, aponta o relatório.   

Dos cinco setores econômicos do país, três registraram alta, um teve queda e um permaneceu em estabilidade, sendo que o setor de energia registrou uma forte queda por conta da crise sanitária.   

“O setor de energia foi aquele que apresentou a maior queda percentual de emissões em 2020. Esse resultado é um claro reflexo da diminuição de atividades emissoras devido à pandemia de Covid-19, quando foi necessário que as pessoas evitassem se deslocar. Destaca-se a diminuição de emissões nos transportes de passageiros. O consumo de combustível na aviação caiu pela metade”, ressalta o pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Felipe Barcellos.   

Já a agropecuária bateu seu recorde de missão, totalizando 577 toneladas de CO2 (27% do cenário nacional), tendo também a maior elevação desde 2010.   

“O setor agropecuário atingiu a maior emissão de gases de efeito estufa de todos os tempos, mesmo em ano de pandemia. Embora seja visível o crescimento da implementação de técnicas de agricultura de baixo carbono no Brasil, inclusive com o cumprimento de grande parte das metas do Plano ABC, esse crescimento ainda está aquém dos patamares necessários para que possamos ver a trajetória de emissões do setor ser modificada e demonstrar o real potencial que o Brasil possui em se ter uma agropecuária sustentável e de baixo carbono”, explica coordenadora de projetos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Renata Potenza.   

O documento ainda ressalta que o “desmonte da fiscalização ambiental e de descontrole sobre crimes como grilagem, garimpo e extração ilegal de madeira no governo [Jair] Bolsonaro” provocou uma alta expressiva no desmatamento da Amazônia, atingindo 10.851 quilômetros quadrados de área.   

“Apenas na Amazônia a emissão por alterações no uso do solo alcançou no ano passado 782 milhões de toneladas de CO2. Se a floresta brasileira fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somando o Cerrado (113 milhões de toneladas de CO2) à conta, os dois biomas emitem mais que o Irã e seriam o oitavo emissor mundial”, ressalta um trecho do documento.   

“O descontrole sobre o desmatamento faz com que a curva de emissões do Brasil ainda seja dominada por uma atividade que é majoritariamente ilegal e que não contribui com o PIB nem com na geração de empregos. Também coloca um peso desproporcional na atividade rural sobre as emissões brasileiras: somando-se os 27% das emissões diretas da agropecuária com as emissões por desmatamento, transporte e tratamento de resíduos associadas ao setor rural, o agronegócio responde por quase três quartos (73%) das emissões de gases de efeito estufa do Brasil”, ressalta o Observatório.   

Meta do corte – Sobre a lei de Politica Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) de 2009, que previa um corte de 36,1% a 38,9% das emissões até 2020, o relatório aponta que a sensação é “agridoce”.   

Por um lado, o Brasil cumpriu a meta no limite “menos ambicioso” com 1% de folga; por outro, há a constatação que “o comportamento das nossas emissões não mudou desde a regulamentação do PNMC”, conforme destaca o coordenador do SEEG, Tasso Azevedo.   

“Em relação a 2010, quando foi definida a meta da PNMC, as emissões brasileiras aumentaram 23%. Continuamos com o desmatamento dominando nossas emissões brutas e, o pior, com tendência de alta nas emissões no ano em que deveríamos começar a cumprir as metas do Acordo de Paris”, pontua ainda Tasso.   

Os resultados do relatório são bastante ruins para a imagem do Brasil, que participará da Conferência Mundial sobre o Clima, a COP26, em Glasgow, e que começa no dia 31. Os números mostram que o Brasil está no caminho oposto ao acertado no Acordo de Paris de 2015 e deve sofrer ainda mais pressão de outros governos internacionais. (ANSA).