A diversidade é uma realidade irreversível e não mais uma tendência. Enquanto Justin Trudeau, presidente do Canadá, justifica a igualdade entre mulheres e homens em seu ministério como um comprometimento com a pluralidade do povo canadense, no Brasil o governo interino se volta para a direção contrária.

Entende-se que a prioridade do governo brasileiro em exercício seja a agenda econômica. Mas não existe justificativa financeira para a falta de diversidade no perfil da nova equipe ministerial. Nem para o rebaixamento do Ministério da Cultura a uma secretaria.

Diante da repercussão negativa à fusão do MinC ao Ministério da Educação, ressuscitando o antigo MEC, o governo interino repensou a atitude precipitada. Michel Temer colocou sua equipe em busca de mulheres para assumir a nova Secretaria da Cultura. Era uma tentativa canhestra de mostrar para a sociedade sua boa vontade com a presença do segundo sexo na equipe. Em uma clara demonstração do desconhecimento das necessidades da área cultural, o governo sondou e convidou um elenco de artistas mais próximo à agenda das celebridades que propriamente envolvidos com política cultural. Tentou-se Marília Gabriela, Zezé Motta, Bruna Lombardi e Daniela Mercury. Todas disseram não. A antropóloga Claudia Leitão e a consultora de projetos culturais Eliane Costa também rejeitaram a ideia e manifestaram posição contrária aos encaminhamentos do novo governo. Essas duas profissionais sabem que, ao aceitar a secretaria, teriam de realizar uma gestão sob a inexperiência de Mendonça Filho, o Mendoncinha, deputado pelo Estado de Pernambuco sem nenhum tipo de articulação na área cultural.

Às reações negativas sobre a decisão, somou-se a constatação de sua ineficácia financeira: o extinto MinC consumia apenas 0,2% do orçamento da União. A Unesco recomenda que seja destinada a essa pasta no mínimo 1%. Marcelo Calero, chefe da secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, foi a saída rápida para esse imbróglio que chegou em meados da semana a ensaiar uma reviravolta, com a proposta do presidente do Senado, Renan Calheiros, de voltar atrás na extinção do MinC.

Advogado, Marcelo Calero assumiu seu primeiro cargo público em 2005, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Estava há um ano na secretaria municipal de Cultura do Rio, substituindo Sérgio Sá Leitão. Tem pela frente o desafio de atender a um setor que cresceu imensamente desde que o Ministério foi criado durante a redemocratização do País. Lá, em 1986, quando perguntado sobre a necessidade do MinC em um país que passava fome, Celso Furtado, que assumia a pasta, respondeu: “Se considerarmos a cultura no seu sentido mais profundo, vamos perceber que ela é mais importante para os pobres do que para as classes privilegiadas. Uma festa popular tem mais significado para aqueles que dela participam do que um grande espetáculo de ópera para uma pessoa de classe média que vai ao teatro quase por rotina.”

Não é apenas a falta de mulheres, mas a falta de profissionais em torno do presidente com algum conhecimento histórico dos avanços femininos, que culminou em mais uma tentativa desajeitada de dialogar com a questão: o ensaio da inclusão das mulheres em pasta destinada aos idosos e aos deficientes. Susan Sontag, uma da mais importantes pensadoras da cultura do século passado, disse nos anos 1970 que a emancipação das mulheres não era mais uma questão de direitos iguais. “É uma questão de ter poderes iguais.” Idosos e deficientes pertencem a uma categoria minoritária com necessidades e urgências muito diferentes da mulher brasileira.